VELHO TEMA - III

Belas, airosas, pálidas, altivas,
Como tu mesma, outras mulheres vejo:
São rainhas, e segue-as num cortejo
Extensa multidão de almas cativas.

Tem a alvura do mármore; lascivas
Formas; os lábios feitos para o beijo;
E indiferente e desdenhoso as vejo
Belas, airosas, pálidas, altivas...

Por quê? Porque lhes falta a todas elas,
Mesmo às que são mais puras e mais belas,
Um detalhe sutil, um quase nada:

Falta-lhes a paixão que em mim te exalta,
E entre os encantos de que brilham, falta
O vago encanto da mulher armada.



SONETO

Enganei-me supondo que, de altiva,
Desdenhosa, tu vais sem receio
Desabrochar de um simples galanteio
A agreste flor desta paixão tão viva.

Era segredo tu?... Advinhei-o:
Hoje sei tudo: alerta, em defensiva,
O coração que eu tento e se me esquiva
Treme, treme de susto no teu seio.

Errou quem disse que as paixões são cegas;
Vêm... Deixam-se ver... Devalte insistes:
Que mais defendes, se tu'alma entregas?

Bem vejo (vejo-o nos teus olhos tristes...)
Que tu, negando o amor que em vão me negas,
Mais a ti mesma do que a mim resistes.

                                        Vicente de Carvalho

Do livro: "Cancioneiro do amor - os mais belos versos de poesia brasileira (Arcades, Românticos, Parnasianos)", org. Wilson Lousada, 2ª ed., 1952, Livraria José Olympio, RJ