O pai

Entre a roça e Brazabrantes
(mais roça que cidade)
ele aprendeu a imitar na viola
o canto repinicado do sabiá.

Um dia, festeiro de São João,
encontrou no fundo de um depósito
os instrumentos enferrujados
de uma banda de música.

Enviou-os a São Paulo
para serem reformados.
Seis meses depois voltaram
brilhando feito ouro.

Entusiasmado contratou
um maestro para ensinar ao filho
os segredos da arte musical
e os sons veludosos da clarineta.

Só que o dente cariado desdenhava
tamanha pretensão artístiica.

            Gilberto Mendonça Teles

Do livro: Linear G (poemas 2002-2009), Hedra, 2009, SP

Voltar