PRIMAVERA

A cada nova primavera surge uma revelação (revolução)
Dos seus ares as almas dos gentios e a complacência dos ébrios
Se locupletam,
Embebedando o próprio sangue e apertando o peito
Levantando as consciências e erguendo as faces...

Uns são como laivos, faíscas,
Ecos de uma voz maior.
Outros são como estrelas, altas – acessas
E brilham aos olhos das massas...

Em todos há um novo olhar
Uma nova tendência
Novos ares que representam novos ciclos
Ou pelo menos novos ensaios.

É na primavera que uma consciência desperta e uma flor sorri...
É na primavera que um sorriso se torna sincero e uma chuva derrama
Um gosto de ar na terra...
É na primavera que as ordens se desorganizam para que a arte possa nascer
E com ela recriar o esplendor da vida...
É na primavera que as mãos se unem e ensaiam um novo grito...

É só por ela. Na primavera
Que as coisas se universalizam,
As raízes se esticam
E os campos que verdejam permanecem ao mando de Deus...
Precisamos de mais primaveras
De mais cores nos quadros dos artistas
De mais enfeites sobre as mesas dos poetas
De mais luzes nas consciências dos povos...

Creio que todos se aconchegam nesse ninar,
Nesse embalo que embala o cotidiano
E entorpece o sono dos justos.
Só porque é primavera, é a hora,
É a vaga, é o fogo
É o som do tempo
É o sinal da vida
É a canção que encanta e a palavra que se mostra
É a menina faceira que decora o canto e ensaia à vida...

                                                              Fernando Rosendo

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