ESMALTE VERMELHO
das oito às cinco enfeita unhas
a manicure do bairro
depois, estraga as suas
em casa, comida e roupa encardidaa oba abre-se efeminada
imitando trejeitos do patrão
cabeleireiro instaladosonotra e burra
enquanto molha pés
e encena aquele cristo do evangelho
conta:
mudou a tranca da casa
que sabe não bastar
contra marido infiel
outro endereço almeja
com aluguel barato
feira por perto
escola em tempo integral
onde abandonar o filho
com todo amor
diariamente
mais não sonha
nem ousamas na jaula do dia
sempre igual
ela pressente a noite da freguesa
imaginação vira leão
é perto das cinco, acesa
pincela paixões, só vermelho
intensamenteé quando mais se esmera
e toma as mãos da cliente
e unha vira espelho
e ela ali retratada
e junto, um dorso de macho
e arre!a moça arreganha a bolsa
estende a gorjeta
sai
toda dedos espetados
a manicuri ri
ri
ri
maliciosamenteMirian Paglia Costa
Do livro: Notícias do lugar comum, Editora 34, 1997, São Paulo
Iva
MulherSou mulher.
Maria
Do livro: "