Sonhava minha cabeça
cheiinha de cachos.
Cabelos enroladinhos
que nem os da irmã
ou da artista Shirley Temple.
Naquele aniversário
pedi à mãe um permanente
no salão da Messody.
Mãos na minha cabeça
molhando e preparando
os lisos cabelos das tranças.
Estava radiante e ansiosa
no trono de alta cadeira
peças de metal tombando
de fios que abocanhavam
minha coroa de rolos.
Quinze minutos depois
o calor virou fogo de inferno.
– Está queimando. Pode
baixar que não aguento.
Messody disse bem firme:
– Pra ficar bonita tem que sofrer.
Telefonou à minha mãe
que confirmou na linha:
– Pra ficar bonita tem que sofrer.
Então comecei a gritar:
– Quero ser feia, quero ser feia
apaga a fogueira em mim!
Sem nem me olhar no espelho
saí de lá num rompante.
Feia, mas aliviada.

           Astrid Cabral

Enviado por Diego Mendes Sousa