Velhice

Velhice! — "Amigo, diz-me um amigo,
             Diz, e é verdade:
Sabe que a boa idade é a última idade,
E és bem feliz de envelhecer comigo.
Poucos vingam o cimo em que ora estamos;
Árvores altas, não nos toca os ramos
O sopro mau que aí em baixo as mais agita
             Bendita e rebendita
A idade austera e nobre a que chegamos".
             Diz, e é verdade...
             Mas que saudade
Das horas loucas da mocidade!

Velhice! — "Amigo, diz inda o amigo,
             Diz, e é verdade:
Há nada igual a esta serenidade?
Fora de nós o amor tredo e inimigo;
Vemos que longe, indômita, rebenta
E rola em mar de nuvens a tormenta.
Tudo aqui em cima é paz, calma infinita...
           Bendita e rebendita
Seja a velhice, de paixões isenta!
            Diz, e é verdade...
            Mas que saudade
Das nuvens de tempestade!
 
                                                                Alberto de Oliveira

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