UMA COROA DE OURO

            (Nas Bodas de Ouro de Theresinha e Lourenço Carriel da Costa)

Chega a noite.
É belo o crepúsculo
quando o dia foi belo.
A árvore floresceu, frutificou.
Era boa a terra, era boa a semente.
Uma semente a que chamamos amor.
O carvalho dourado pende os ramos
coroando a sabedoria do amor. Ó Deus.
Esperamos os pomos dourados da noite.
Somos felizes: um arco dourado nos une.
Cantando cruzaremos o umbral do tempo.
Coroados com o ouro do amor seremos eternos.
 


Lavradores

Meu pai lavrava a terra, e eu lavro o poema.
Tenho o conhecimento da linguagem
como emblema, e ele simplesmente sabe
o que da natureza retirou:
os elementos e seus nomes claros.
Preciso da palavra exata, pura,
e não encontro, que nomeie a vida,
e não existe, e a música, a beleza
da imagem recrio a todo instante.
Meu pai, como esses velhos bois cansados,
rumina o tempo, com paciência e luz,
e ergue o corpo, olha, a voz é um domínio:
a terra fecundada, obedecendo.
Estou pobre, lavrando este meu campo.

                                                                José Carlos Mendes Brandão

Do livro: Exílio, Massao Ohno Editor, 1983, SP

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