A BELEZA  DUMA  RUGA

Que rosto lindo eu vi hoje, rugoso,
Tão fascinante qual o duma criança!
Continha o mesmo brilho radioso,
Continha a alegria pura duma dança...

É um brilho de amor por ser-se homem
E pela fé confiada na existência;
É como se o amanhã unisse o dia d' ontem
É como se o amanhã fosse a nossa essência!

Nos rostos deslumbrantes por que passas:
Um duma criança linda renascida
Ou a cara dum velho bem franzida
Reluz futurecida a acção de graças.

Pois, uma ruga é prémio incontestável,
É o colo mais feliz da transcendência!
E é assim que se é criança admirável,
E é assim que finda a vida em sapiência.
 

MEUS AVÓS

Cabelo branco é luz de prata pura,
É a feliz distinção dum rosto vivo...
Como é bela a cabeça com brancura
Da criatura a pratear o imperativo!

A brancura é pureza e sageza;
É a sabedoria, luz que irradia
A auréola da magia, flor da Beleza,
O rosto a reluzir a estrela-guia.

Amo as figuras belas distinguidas,
Sejam mulheres ou homens cintilantes!
Já os amava quando era pequenino...

Meus queridos avós de épocas idas,
Cúmplices confidentes adjuvantes
De cursos iniciantes com atino.

                                                                Eugénio de S. Vicente

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