Velho

Estás morto, estás velho, estás cansado!
Como um sulco de lágrimas pungidas,
Ei-las, as rugas, as indefinidas
Noites do ser vencido e fatigado.

Envolve-te o crepúsculo gelado
Onde vai soturno amortalhando as vidas
Ante o responso em músicas gemidas
No fundo coração dilacerado.

A cabeça pendida de fadiga,
Sentes a morte taciturna e amiga
Que os teus nervos círculos governa.

Estás velho, estás morto! Ó dor, delírio,
Alma despedaçada de martírio,
Ó desespero da Desgraça eterna!

 

MOCIDADE

Ah! esta mocidade! -- Quem é moço
Sente vibrar a febre enlouquecida
Das ilusões, da crença mais florida
Na muscular artéria de Colosso...

Das incertezas nunca mede o poço...
Asas abertas -- na amplidão da vida,
Páramo a dentro -- de cabeça erguida,
Vê do futuro o mais alegre esboço...

Chega a velhice, a neve das idades
E quem foi moço, volve, com saudades,
Do azul passado, o fúlgido compêndio...

Ai! esta mocidade palpitante,
Lembra um inseto de ouro, rutilante,
Em derredor das chamas de um incêndio!

                                                    Cruz e Souza

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