Envelhecer

— Envelhecer! Como é belo e repousante!
Diz minha vizinha a cada instante.
E ainda repete para toda gente:
— Por mim, sinto-me até muito contente
Para ser feliz não importa a idade
Disto não tem privilégio a mocidade.
Que me venha a velhice,
Não a temo — disse —
Nem a seu séqüito de rugas, de cabelos brancos,
De vista curta e de passos mancos,
De corpo encurvado a olhar o chão...
E continuou como se declamasse:
— Para mim, a ruga embeleza a face
E é tão linda uma cabeça de algodão!

Depois fechando os olhos como se morresse:
— Como são belas as nuvens que no horizonte
Enroscam-se no cume de algum monte
E é como se o monte também envelhecesse!
Ó vós que envelheceis com tamanha tristeza
Como não vedes a glória e a grandeza
Que cada ruga nos conta que viveu?
Ah! Que tranqüilidade, que delícia
Na retrovisão do amor e da carícia
E de tudo quanto a vida já nos deu!

E assim termina num tom muito inflamado:
— Meus amigos, também vos asseguro:
Se ao envelhecer encurtamos o futuro
Na mesma proporção cresce o passado!
Calou-se, então, finalmente.
Aproveitando o momento
Foi aí que alguém presente
Fez-lhe este cumprimento:
— Senhora, é cedo — disse —
Para pensar em velhice...
E acrescentou afoito:
— Em seus quarenta anos...
Mas, ela mais que depressa
Sai-se com essa:

— Trinta e oito!

                           Magdalena Léia Barbosa Correia

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