APOSENTADOS Ó vós, que vos perfilais à porta
dos bancos nas manhãs vespertinas;Ó vós, que vos antecipais, sempre,
e mesmo assim andais atrasados;Ó vós, que aguardais o soldo mensal,
O soldo final retido nos cofres;
Ó vós que depositais paciência
nas vitrines de ar, armaduras ocultas;
Ó vós, penumbras na luz, diluentes
contornos, discretos barulhos;Ó vós, que vos equilibrais à beira
da vida, em tenso, tenso silêncio;Ó vós, que arrecadais o gesto severo
de funcionários oclusos — e rápidos;Ó vós, que recebeis a porção do dinheiro
em dissimulada e breve alegria;Ó vós, que retornais às paredes ambíguas
atadas no dorso oblíquo do tempo;Ó vós, seres poentes, escondei
as chaves do corpo em sete estações;Ó vós, formas silentes, poupai energia;
renegai, sobretudo, a lenta agonia,a menos-valia!
Alcides BussDo livro: "O homem sem o homem", Ed. Noa Noa, 1982, SC