A VELHA

A velha, sossegada,
Com seu bordado ocupada,
Tece toda enternecida
Toda a ternura da vida.
Então eu lhe pergunto pelo amor.
Ela confessa que namorou escondido,
Que provou do fruto proibido,
Pulou o muro, ficou de castigo,
Mas casou de branco como mandava o figurino.
A velha, de partida,
Se despedindo da vida,
Diz que vai deixar saudades
Entre amigos e comadres.
A velha cuidou do irmão,
Do filho, do pai, do patrão,
Mas não quis o marido, não.
Preferiu a liberdade,
Viveu a sua verdade,
Satisfez suas vontades,
Deu amor, não falsidade.
A velhinha foi tecendo
Uma estória tão compriiiiida,
Contou toda a sua vida,
Seus sonhos de moça bonita,
E o dia amanhecendo,
Calou sua voz para sempre.
Na terra ficaram as sementes
Que ela plantou ternamente –
Estórias que alegremente
Contou para tanta gente.

                    Sonia Regina Rocha Rodrigues

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