A velhice

Quando já bem velhinha, à noite, à luz da vela,
sentada ante a lareira estiveres fiando,
dirás, ao recordar-me, o coração pulsando:
"Ronsard cantou-me em verso, ao tempo em que fui bela"!

Já não terás, então, como serva, a donzela
que, ao peso do cansaço às vezes ressonando,
ouvindo-me invocar, despertava, abençoando
o teu nome imortal que meu verso revela.

O corpo sepultado, a alma livre e sem pouso,
à sombra dos mirtais encontrarei repouso;
tu - do tempo curvada à fatal inclemência -

chorarás meu amor e teu frio desdém...
Não fiques a esperar pelo dia que vem
colhe enquanto ainda é tempo as rosas da existência!

        Pierre de Ronsard
Tradução de Heitor P. Fróes

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