ENTRE RUGAS E CABELOS GRISALHOS

Envelheço
nas mesmas mãos
que me acalentaram
e jogarão terra
sobre o meu caixão.
Nunca esqueço
quem guia meus passos
para longe do mais triste laço,
o da solidão.
Não pareço,
no espelho olhado,
com a imagem
que eu via antanho.
Como é duro
olhar para o passado
e ver-se um estranho.
Entre rugas
e cabelos grisalhos,
somos companheiros
na compreensão.
Envelhecemos descalços
para nunca esquecermos
de manter os pés
no chão.

O ATLETA

Na mais estranha quietude,
o atleta se despede de sua juventude.
Uma nobre atitude
é o que a todos parece.
Mas o atleta, em silêncio,
faz uma prece:
O mundo que me ajude.
Tanta medalha no peito;
contra o tempo não tem jeito,
o atleta foi vencido.
Hoje, um velho envaidecido
que com a vida ainda compete.
O atleta ainda se veste
com a camisa da coragem
e na sua jovem imagem
se espelha
e mantém ainda acesa,
a chama da liberdade.
Nem tristeza e nem saudade,
mas sua vasta idade
é que o condena.
O atleta
finalmente sai de cena.

João Felinto Neto

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