VELHICE

A velhice não chega, mas silenciosa
recados envia — que virá para ficar:
brancos fios aqui... a barriga,
rugas impensadas por lá...
e inexoráveis espelhos ao redor.

Um espanto com o mundo
a alguém um perplexo olhar...
Antigas memórias retornando mais claras
e alguma falta de ar.

A velhice não entra, nem à porta
entreaberta bate a se anunciar:
ronda, isto sim, insidiosa
penetrante conduzindo devagar
o jeito de ser em diferentes costumes.
O coração não é mais impulsivo rapaz,
agora é um bebê para se vigiar.
Novos hábitos se tornam obsessivos
o lugar das coisas, nada mais infinito
e a leitura do obituário do jornal.

                                                     José Carlos Zanin

Do livro: Quatro paisagens, Ed. Blocos, 1992, RJ

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