A UMA SENHORA

Foi tua vida inteira uma crescente
série de anseios e de sofrimentos.
Bem cedo as flores de teu sonho ardente
deram por terra, ao sopro dos maus ventos.

Mas quantas vezes, como quem pressente
das mãos de Deus o alívio aos seus tormentos,
beijaste, em pranto, jubilosa e crente,
a cruz de ferro dos rosários bentos.

Hoje, curvada ao jugo da velhice,
sem que apagasse o tempo, em sua trama,
a tua antiga e maternal meiguice,

paira em teus olhos, sob um véu de mágoa,
a doce, vaga e merencória chama
das estrelas que brilham dentro d'água...

                                                                Orlando Brito

Do livro: Sonetos, João Scortecci Editora, SP, 1996

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