TERCEIRA IDADE

Muito aprecia o sol nado
quem já chegou ao inverno.
A mudança só existe
na palma de cada mão.

Mas se o sol queima a lembrança
dos dias idos do outono
a cinza fria do medo
mata mais que o abandono.

A maturidade estende
o tempo não inventado.
Mas nunca destrói o muro
sem estarmos no outro lado...

Vinga-se a idade no sol
que vem de quentinho    quente
anichar-se em cada espanto
que foi raiz e semente.

Quando a existência se alonga
na curta vida de alguém
as quatro estações do ano
têm milhoes de dores têm.

Só aprecia o sol nado
quem não fez da noite dia.
A melodia do tempo
chova ou não     é melodia.

O inverno dos anos tem
sede ainda de mais anos.
Só o muro do silêncio
se abate com os desenganos.

Chegaste à terceira idade
sombra minha meus amores.
Muito se aprecia o sol
na noite feita de dores.

Se o frio da idade se aquece
prende-se ao calor da idade.
Ser velho é ter vivido
mais sonhos que o permitido.

3-12-1980

                            António Vicente Campinas

Do livro: Fronteira azul carregada de futuro, Ed. do autor, 1984. Lisboa/Portugal

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