Minhas velhas

As minhas velhas
Tinham lá os seus modos
De aldeias antigas:
Guardavam o dinheiro
Em lenços enrolados
Que depois enfiavam
No meio
Dos seios

Era um dinheiro que cheirava a leite
A suor, a comida e privação

Um dinheiro sofrido e bom
Como o primeiro coito

As minhas velhas sabiam das coisas:
Fui eu que me esqueci.


Do livro: Chocolate amargo, Brasiliense, 2008, SP
      

INVENTÁRIO (II)

Avó, que pretendias
com as letras escritas,
que palavras dizias
avó, qual a mensagem
que este ouvido perdeu?
Foste tu ou fui eu
avó, quem distraiu
e o trato não cumpriu?
E se estavas calada
tu não dizias nada
ou era erro meu?

Avó, quando morreste,
quem morreu?

                               Renata Pallottini

Do livro: Os Arcos da Memória [1971], in Obra poética, Editora Hucitec, 1995, SP

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