PARA ONDE VAMOS?
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Roberto C. P. Júnior
 
Na opinião da maior parte dos cientistas, para lugar nenhum. Nascemos, vivemos e morremos. E é tudo. Mas, se restringirmos a abrangência dessa questão, se a comprimirmos nos limites do âmbito material visível, verificaremos que a história é bem outra. Pergunte-se aos discípulos da ciência: "Para onde vai a humanidade com seu progresso material?" e um mundo de fantásticas possibilidades se abrirá imediatamente. Com surpreendente paciência, insuspeitada didática e indisfarçável orgulho, eles discorrerão então prazerosamente sobre as maravilhas que nos aguardam. Vejamos, pois, o que vaticinam os profetas científicos:
Para começar, muitos pregam simplesmente que a ciência vencerá a morte. E por incrível que pareça, o rebanho dos que se convertem a esse evangelho da eternidade material cresce sem parar. Alguns dos fiéis, especialmente agraciados, já foram inclusive ungidos com a criogenização, um processo de congelamento de cadáveres a uma temperatura de 196 graus negativos. Junt com seus corpos, esses eleitos conservam num freezer a sagrada esperança de um dia serem ressuscitados pela ciência numa espécie de forno de microondas... A segunda maior preocupação dos futurólogos da ciência, logo após terem se desincumbido desse assunto da imortalidade da alma, está voltada para o Sol. Sim, porque atualmente se estima que ele continuará a brilhar normalmente no máximo por 1,1 bilhão de anos. (*) Depois inchará descomunalmente, engolindo os planetas mais próximos, dentre os quais a Terra. Nesse ponto, evidentemente, toda a vida se extinguirá, aí incluídos os até então felizes e imortais seres humanos terrenos. As providências para se contornar esse contratempo já estão sendo aventadas há anos. Segurem-se:
Já em 1960 imaginava-se que a humanidade do futuro poderia construir abrigos subterrâneos salubres e climatizados, no caso de o Sol não chegar a derreter a Terra, ou então que seria possível transportar toda a população do globo para um planeta onde o calor fosse menos intenso. O escolhido foi Netuno. Atualmente essas idéias já foram consideravelmente aperfeiçoadas. Reafirmando sua crença no poder da tecnologia para salvar a humanidade, um famoso cosmólogo explicou que os seres humanos do futuro vão se mudar para um outro Universo, ou então libertar-se de seus corpos para sobreviver sob a forma de pensamentos... Um outro cientista visualiza a construção de fábricas em Marte para produção de metano e amônia, que serão então liberados continuamente na atmosfera marciana. Feito isso, basta introduzir no planeta algumas plantas e bactérias especializadas na transformação de gases e em pouco tempo teremos oxigênio em abundância. Pronto! Um novo lar para os imigrantes humanos...
Em nossos dias existe também gente que quer descobrir um meio de levar a Terra a uma distância mais segura do Sol. Outros acham que devemos nos mudar para as luas de Júpiter e Saturno. Alguns, mais otimistas ainda quanto à capacidade de realização humana, prevêem que serão construídas cidades espaciais ao redor do Sol, as quais irão com o tempo se juntando umas às outras até envolver toda a estrela numa grande esfera artificial. O material necessário para a construção seria comodamente obtido desmantelando-se o planeta Júpiter. Os que acham essa idéia, digamos, um tanto excêntrica, contentam-se com a montagem não de uma esfera, mas de apenas um anel artificial em redor do Sol... Por fim, até mesmo a Terra precisaria ser desmantelada, a fim de fornecer o material necessário para a construção de novos mundos. Também se prevê habitar asteróides ocos, enchidos de ar, e a construção de cidades em mini-planetas, protegidas por cúpulas.
Nas palavras de um cientista respeitado, essas são "as propostas sóbrias do espectro de especulações acerca do futuro do homem no espaço..." Existem, de fato, até algumas proposições para se controlar o Sol. Os que estão no topo desse desvario psiquiátrico estão convencidos de que a humanidade vai poder controlar até várias estrelas! O autor de um livro considerado científico (e portanto sério) sobre o futuro do ser humano afirma textualmente: "Se há alguma lei fundamental que diz que não poderemos, nos próximos milhões de anos, ocupar e explorar a nossa galáxia, com seus cem bilhões de sóis, então até agora essa lei nos é desconhecida." Que poder ilimitado está, pois, reservado à criatura humana desse glorioso porvir!...
Ilimitadas mesmo são a arrogância e a presunção humanas, somente competindo ainda com a fantasia mórbida gerada pelo intelecto torcido. Excrescências do raciocínio, todas essas coisas, que agem atraindo incompreensivelmente
tantas pessoas realmente boas e sinceras. E assim vai trotando rumo ao abismo, despreocupadamente, uma considerável parcela da humanidade, que inadvertidamente fez da ciência a sua divindade. Oxalá, alguns dentre eles percebam a tempo que as profecias sobre os falsos profetas não se referiam apenas a dirigentes de doutrinas religiosas.
 

(*) A respeito das reais condições da nossa estrela, ver a matéria "O Sol"
(http://www.msantunes.com.br/juizo/osol.htm).
 
 



 
QUAL O PROPÓSITO DA VIDA?
 

A grande questão! Talvez a única ainda capaz de fazer as pessoas refletirem um pouco, desde que, é claro, encontrem algum tempo para isso. Qual é, pois, o propósito dessa vida? "É gozá-la, aproveitá-la o máximo possível!" gritarão em coro os membros do alegre clube dos hedonistas, constituídos não apenas dos materialistas convictos (sócios fundadores), mas também dos adeptos cada vez mais fervorosos - e numerosos - da cada vez mais ecumênica - e próspera - teologia da prosperidade. "Ora, que visão mais simplista e sem fundamento!" contrapõem, indignados, os representantes das hostes científicas, que formam o grupo mais intransigente. "A missão da espécie humana é, unicamente, alavancar o progresso, desenvolver o raciocínio e desvendar todos os segredos do Universo!"
"Pobres cegos! Por que não quereis ver? Estais na Terra para libertardes vossas almas!" recitarão em uníssono, como um mantra, os porta-vozes das inúmeras tendências místico-ocultistas e os dirigentes das não menos
numerosas doutrinas que exigem crença cega. Os integrantes desse vastíssimo grupo, que de todos é o que melhor personifica a vaidade e a presunção, divergem entre si apenas no método para se obter a iluminação: enquanto uma parte quer encontrá-la pelo desvendamento do oculto, a outra consegue isso apenas seguindo à risca as diretrizes impostas por uma dada religião. À exceção de algumas poucas diferenças na forma, esses três grupos básicos acomodam as convicções da maior parte da humanidade em relação à essa questão crucial do significado da vida. Deixemos de lado por ora a superficialidade do primeiro grupo e a fantasia do terceiro. Vamos verificar o que os integrantes do segundo grupo têm a dizer.
Os cientistas... Mais uma vez é para eles que se voltam os olhares de uma parcela expressiva da população, que ainda se movimenta interiormente em busca de uma resposta clara e que, não obstante, não se deixa manipular por superstições nem tampouco se algemar a dogmas. "Progresso! Progresso a todo o custo!" Nesse axioma se resume a severa exortação de vida que nos dirige a ciência. Essa resposta até poderia ser considerada certa, se com isso se entendesse o progresso realmente da humanidade, e não apenas o incremento das suas condições materiais de vida. Se com o mesmo ardor utilizado no desenvolvimento da técnica, se buscasse também o aperfeiçoamento do espírito. Se as pessoas, finalmente, olhassem para si mesmas como seres espirituais que são, e não como máquinas programadas apenas para executar funções corpóreas e mentais. Pois de que vale gastar toda uma existência exclusivamente no acúmulo e usufruição das comodidades da vida moderna - que com justiça devem ser creditadas às conquistas da ciência - se nenhuma delas pode livrar a criatura humana da angústia e do sentimento de vazio que lhe assaltam nesta época? Gritos abafados do seu espírito enclausurado? Todas as maravilhas cibernéticas, os grandes feitos espaciais, os mais recentes milagres da técnica, os antidepressivos de última geração, nada disso proporciona ao ser humano hodierno sequer a sombra de um vislumbre de felicidade.
Não que essas coisas não sejam úteis, mas não bastam para o desenvolvimento de um ser espiritual. Não podem bastar. Quando muito elas proporcionam um prazer pouco mais intenso que um espirro, muito longe da verdadeira alegria e infinitamente distante da felicidade.
Felicidade, aliás, é hoje uma palavra cada vez mais difícil de definir. Como discorrer sobre algo que não existe mais? Com sua propensão doentia para o meramente terrenal, com seus antolhos intelectivos, com sua trágica ilusão de poder e auto-suficiência, a humanidade inteira abriu mão da felicidade. Pior: lutou incansavelmente para que ela fosse radicalmente extinta!
E ainda há quem insista teimosamente em reencontrá-la em produtos científicos... Sísifos modernos, todos estes. No que depender dela, da idolatrada ciência, a busca da felicidade a que todos têm direito, conforme preconizado pela ONU em sua Declaração Universal dos Direitos do Homem, continuará a ser exatamente isso: uma eterna e desesperançada busca, ou, conforme certamente preferirão os membros do grupo científico, um moto-contínuo.

______________Mestre em Engenharia e autor do livro on-line "Vivemos os Últimos Anos do Juízo Final".

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