O Tempo, o Vento e o Cyberespaço
(Algumas Considerações Sobre a Internet)
Paulo Roberto Santos Lima
Dizia Guimarães Rosa que escrever em jornal é como
escrever na areia, porque vem o vento em seguida e apaga. O autor de "Grandes
Sertões Veredas" tinha o dom das grandes metáforas. O que
se escreve em jornal o tempo apaga. Ele não viveu no entanto
o suficiente para testemunhar a última grande revolução
dos nossos tempos: a revolução do cyberespaço. Cabe
então a questão: existiria alguma diferença entre
escrever na areia e projetar a notícia num jornal online da internet?
Se considerarmos a vida útil da notícia, escrever na areia
ou no cyberespaço corresponderia a escrever para uma posteridade
que mal atingiria o dia seguinte. Assim é o universo das notícias.
Se, contudo, avaliarmos o público alvo do texto jornalístico,
talvez possamos concluir que o jornal divulgado online tem suas vantagens
sobre o jornal escrito na areia. E que vantagens, pois a internet é
hoje a mais poderosa ferramenta de difusão de informações
de que se tem notícia. Milhões de pessoas no mundo inteiro
têm acesso a essa rede mundial de computadores. Fazer parte desse
cyberespaço é dispor hoje de um fantástico e inesgotável
manancial de informações, em diversos idiomas, a qualquer
tempo e hora. Numa palavra, o mundo aos seus pés. Devemos considerar,
todavia, que a escrita online não ostraciza o texto escrito na areia,
antes o potencializa. Guimarães Rosa, por exemplo, como qualquer
outro escritor que foi capaz de imortalizar a sua grandeza literária,
encontraria no espaço cibernético o veículo ideal
para difundir a sua obra para um público jamais atingido.
Podemos ainda comentar outras virtudes da internet e o combatido
vezo de uma parcela dos usuários. Vou fazer um pequeno exercício
de fantasia e imaginar uma pessoa que acabou de acordar em Londres, foi
pegar o leite e o jornal deixados na entrada da sua residência. Enquanto
retorna para o interior da residência, vai passando os olhos nas
principais notícias do dia, estampadas no Financial Times, supondo
que esse é o periódico que o nosso personagem tem o hábito
de ler. Agora imaginem alguém que acordou em Quixeramobim,
no interior do Brasil, e, usuário da Internet, acessou a grande
rede em busca de notícias do exterior. Suponha que o Financial Times
foi o primeiro periódico on-line que ele tentou ler. Aí está
mais um dos fascínios dessa poderosa tecnologia. A internet disponibiliza
informações que até certo tempo não poderiam
ser adquiridas nem nos sonhos mais otimistas. Vamos fazer mais um pequeno
exercício de fantasia. Suponha que aquele autor que você admira,
mas de quem nunca foi capaz de se aproximar, dentre outros motivos, porque
ele mora em terras distantes, lançou um novo livro e disponibilizou
parte desse livro em uma versão on-line na internet. Suponha ainda
que o tal autor seja do tipo que não se incomoda com o assédio
dos leitores e, por isso, informou o seu correio eletrônico
para manter contato com os admiradores. Aí está outro formidável
recurso da internet. Você poderá interagir com pessoas que
jamais imaginou, pois de outra maneira não lhe seria permitido
fazê-lo, nem que você vivesse toda uma existência. Agora
o lado mais combatido, o chamado vício de alguns usuários.
A internet vicia? Recentemente foi noticiado que uma dona de casa de uma
cidadezinha do centro oeste americano trancava os filhos pequenos
no quarto para desfrutar mais sossegada dos prazeres da internet. Não
é preciso ler Drummond para saber que nas cidades muito pequenas
a vida passa devagar, e que, por isso, diante das possibilidades de se
viver outras situações, ao menos virtualmente, muitas pessoas
acabam por considerar a internet irresistível. Este talvez seja
um tipo de situação que acomete uma parcela dos usuários
que não consegue se desligar do universo da internet, por
considerá-la um substituto perfeito para suas vidas.
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