O ato mágico do crescimento, a gênese voluntária
do saber espelha mui fortemente o ato físico do sepultamento. Na
criação e metamorfose do consciente individual, passa o agente/sujeito
passivo por uma transformação muito próxima da morte.
Morte não vista como simbologia de carne, morte vista como a ruptura
de conhecimentos até então considerados matrizes em uma conduta.
Não é dado ao vulgo a capacidade de morrer constantemente,
também ao sábio é difícil esta bela arte de
morrer.
O ato mágico do crescimento, caminha por uma estrada limpa,
aberta e disponível, alguns o tomam por uma escada para visualizar
uma “subida” em direção ao Saber. Cada degrau conquistado,
cada curva vencida. Sua altura, seus sinais, a aspereza das pedras ou do
asfalto, os gestos de erguer o pé e subir ou travar tudo, leva constantemente
a uma ruptura, tudo leva à morte ao instante anterior e, por si
só, cada ato, cada idéia torna-se um renascer constante,
torna-se a perfeição espelhada no Eu, a capacidade até
então exclusiva de Deus, de criação, de ressurreição.
O sopro divino do verbo inicial. A transmutação sistemática
análoga ao Eu Sou a Presença Divina.
O ato mágico do conhecimento, como um caminho em busca da superação,
como gesto de morte constante, o suicídio como ato mental leva ao
vulgo e ao iniciado a força constante do Saber. A constatação
inequívoca da grandeza da estrada, a constatação da
necessidade de pequenas mortes (rupturas) no caminho. O ato da gênese
é único, tão somente o momento inicial de qualquer
criação. Um ato tão sublime e de êxtase que
se estabelece como manifestação divina. A constatação
do homem, dotado de um Saber evoluído, de um Saber acompanhado das
condições de morte permanente, do despojamento de “conhecimentos”
enraizados e sedimentados como seus, possibilita a este, ser espelho de
Seu Deus, ao Eu Sou constante da Presença Divina interna, a realização
do ato mágico divino, a realização de algo até
então disponível a alguns poucos, a realização
do ato mágico do conhecimento em forma de criação
de vida. Se pode o iniciado, surgir vida dentro de si constantemente, poderá
ele também, por sua prática de Poder na conquista do Saber
principal da ressurreição constante, levar aos escolhidos
o caminho da afirmação divina. O poder da realização
constante do eterno Saber. O poder da constatação imediata
de que o Saber não é algo intangível, intocável,
não alcançado nos pequenos limites de nosso imaginário.
O ato mágico do conhecimento, leva ao douto portador do
Saber, ao conhecedor da manifestação mais íntima do
verbo feito espírito, a manifestação pujante e calórica
do verbo em presença divina, a constatação do Saber
de poucos. O Saber disponível a todos, “...muitos serão os
lembrados, mas poucos serão os escolhidos...”, o Saber transformado
em ato, em gesto, em sopro divino e constante. A manutenção
dos atos de poder existentes no Saber e, reciprocamente, a manifestação
do Saber constante na utilização do Poder, leva este iniciado
nos caminhos do conhecimento, a situações constantes e perigosas,
leva a situações de risco pelo ato da transmutação
do verbo em presença divina. O perigo advindo da transmutação
da criatura em criador, do discípulo ultrapassando ao mestre. O
perigo existente não somente na morte diária, mas também,
a morte física ou moral que pode surgir com o Saber.
O ato mágico do conhecimento, transposto ao ato sublime e divino
da morte, da ruptura como algo sofrível e penoso, da morte como
perda irrecuperável de algo inatingível, o desconhecimento
que advém do ato. Quem sou, Por que sou, aonde vou? O ser por si
só, como manifestação da presença divina, como
manifestação do verbo feito espírito e sobreposto
em carne tem por objetivo a realização suprema, a Grande
Obra tão difícil e impossível até então,
a realização da transmutação da criatura. A
constatação de que o Criador é algo que sempre estará
a frente, que sempre será o possuidor do Poder Supremo, o Poder
da condução e controle da criatura.
O Poder mágico do conhecimento, como ato de ruptura, de crescimento,
de subida. Como ato de morte do vulgo, como gênese do nascimento
do iniciado. Aquele que tudo ouve, que tudo vê, aquele que não
impõe limites ao procurar o Saber, aquele que, no cuidado constante
da Grande Obra, alcança os vôos da águia ao observar
suas presas; Possui os olhos do felino ao vislumbrar sua caça; Tem
a ternura da mãe ao amamentar seu filho. Aquele que ao expressar
seu Saber torna-se tão meigo e tão doce quanto os mais doces,
torna-se tão fera e horrível quanto os mais horríveis,
aquele que transmuta-se na presença constante de uma ruptura necessária,
na âncora de sustentação aos navios do porto, a fortaleza
de pedras para os dias de tempestade. Torna-se pois o iniciado, o conhecedor
do Saber Supremo, o detentor do poder divino de criação da
gênese, da capacidade do renascimento das criaturas. Torna-se, pois,
o esteio de uma Obra sem fim, o alicerce mais profundo e seguro na constituição
da ponte do Saber, a segurança e a condução na transposição
desta ponte. A ponte que surge e que brilha, que fornece a passagem mas
desmorona na volta, a ponte que permite a tomada de conhecimento mas não
deixa o regresso. A ponte surgida na estrada, como simples pontilhão
de passagem solitária, com o riacho do senso comum a cruzar por
baixo de sua base, com as árvores das sombras do prazer para degustar
o descanso necessário ao viajante, com a poeira a frente na estrada,
mostrando o caminho aonde outros já cruzaram e o tempo é
cronometrado para a próxima ponte, a próxima parada, o próximo
descanso, o próximo prazer.
O poder mágico da morte, como ato de quebra de uma situação,
como ato do avanço no campo do Saber é o ato sublime da manifestação
do criador, é o ato perfeito da escalada do Saber. O Ato da
morte, tão belo, tão singelo e puro, é o ato constante
da perfeição, do crescimento, do Saber. É o ato da
transmutação divina do verbo em Eu Sou. É a pedra
filosofal no caminho do iniciado, a Grande Obra para os obreiros da luz.
A morte como ato permanente, constante e necessário leva ao crescimento
do iniciado, leva a superação da própria limitação
humana do domínio da vida e da morte, transporta o ser até
então cru e inconsciente a um plano metafísico, um plano
de busca e aperfeiçoamento. A morte então, como um ato divino
da manifestação do Deus em mim, como as folhas a desabrocharem
no lindo jardim da primavera, como o sorriso da criança ao receber
um afago, como o canto do pássaro ao saudar seu irmão sol,
como ato divino, é suprema, é necessária e, principalmente,
a morte é linda!!!