“Cyberspace is poetry inhabited, and to navigate through it
is
to become a leaf on the wind of a dream.”
Quem nos disse que a estética pós-modernista
não nos permite um grau de romantismo, hein?
Mas eu não estou aqui para poetar nem para surfar. Gostaria
de curtir um vôo junto com vocês, uma peregrinação
cibernética que nos leva a uma determinada sala de bate-papo (ou
seja, chat room) nalgum território brasileiríssimo que paradoxalmente
ocupa simultaneamente o ciberespaço universal e desterritorializado.
Gostaria de problematizar noçðes de ficção durante
esta viagem, da perspectiva pós-moderna, indagando como esse texto
consegue ultrapassar os limites da transgressão já inscritos
dentro dos parâmetros da teoria pós-modernista. Talvez
a primeira transgressão deste texto que pretendo analisar hoje seja
a impossibilidade da sua classificação genérica.
Colibri deflora os chats: Sexo, amizade e amor pela Internet, escrito
por Urhacy Faustino em 1997, resiste até a narratividade.
Mas antes da nossa decolagem coletiva, vamos esperar só um minutinho
para olhar as possíveis saídas do avião em caso de
emergência e para contemplarmos o valor de participar desta viagem
no primeiro lugar (e, espero, na primeira classe). Vale a pena acompanhar
a viagem, especialmente no hi-tech “hiper-texto” da atualidade, os incessantes
e inesperados choquinhos e buraquinhos eletrônicos provocando ansiedade
e nojo no meio do caminho? Acredito que para entendermos melhor o
pensamento pós-modernista feito ainda mais complicado em tempos
cibernéticos, é preciso navegar, sim. Como afirma Marie-Laure
Ryan na Introdução de Cyberspace Textuality: Computer
Technology and Literary Theory, uma coletânea importantíssima
de ensaios e artigos publicado em 1999 pela Indiana University Press:
“In postmodernism, the ideal of the total work gives way to the idea of
universal intertextuality: every individual text is linked to countless
other ones, and the whole is reflected in every [one] of its parts . .
. In the electronic age, thanks to the hyperlink, the text literally becomes
a matrix of many texts and a self-renewing entity” (14).
O texto que vou comentar com vocês tem muitos
outros traços pós-modernistas, inclusive uma celebração
lúdica—na verdade, quase que carnavalesca—e uma certa autorreferencialidade
irreverente que quer testar os limites da sua própria transgressão.
Como diz Robert Wilson no seu artigo fundamental, “Play, Transgression,
and Carnival,” a vontade de quebrar regras constitui parte fundamental
do universo da transgressão na literatura pós-modernista.
Wilson até define o uso de transgressão como uma espécie
de rito de passagem entre o moderno e o pós-moderno, destacando
que no universo do pós-moderno, “All language may be said to transgress
itself: it always subverts, through its inherent abstractness and
arbitrariness, the conventions of its speaking, or its writing, even if
that is not readily perceived.”
Em Colibri deflora os chats, percebe-se muito
bem este processo, colocando em prática exatamente o que Wilson
destaca na teoria: uma qualidade mansamente brincalhona, uma postura
lúdica quanto ao leitor e ao texto em si. Na verdade, uma
entrada no infinito espaço de ciberespaço possibilita muitos
jogos lúdicos de um processo que gostaria de chamar de “brincadeira
produtiva.” É muito bom lembrar o conceito que Marie-Laure
Ryan destacou no seu texto referido um pouco antes: “If we live in
a ‘virtual condition,’ it is not because we are condemned to the fake,
but because we have learned to live, work, and play (AND PLAY) with the
fluid, the open, the potential” (94). A força libertadora
da transgressão pós-moderna (como quer Wilson) parece
encontrar seu valor mais profundo justamente dentro deste universo repleto
de infinitas possibilidades virtuais. Ryan expressa esta abertura
para a liberdade sucintamente quando escreve: “The attitude promoted
by the electronic reading machine is no longer ‘what should I do with texts’
but ‘What can I do with them” (99).
Colibri deflora os chats serve como um manual
de possibilidades. Urhacy Faustino, artista, poeta, e “internauta”
paulista, publicou este texto em 1997, apresentando ao leitor três
personagens principais (ou seja, “screen names”) da sua invenção:
colibri; hhhh; e virgem. O principal objetivo para esta galeria de
personagens é navegar a rede, voando, de madrugadinha, desde uma
sala de chat para outra, em busca de compatibilidade cibernética,
de cibersexo ou às vezes apenas uma boa dose de “redamizade.”
Ao longo dessas viagens eletrônicas, estas personagens também
procuram entender (ou pelo menos exibir) as complexidades do instinto sexual
humano e a construção de identidades cibernéticas
em fluxo, revelando e descobrindo múltiplas subjetividades através
de assumir uma variedade de máscaras carnavalescas, desfilando-se
numa parada de “screen names” e “nicknames.”
Colibri deflora os chats leva o leitor a novos
limites dentro do universo infinitamente aberto de transgressão.
O texto nem deixa a gente contemplar com aquela velha perspectiva cética
do pós-modernismo, querendo saber o que acontece quando a própria
transgressão acaba se transgredindo, ou seja, is anything REALLY
transgressive anymore? Vários teóricos da “e-culture,”
se me permitirem a expressão, já afirmaram que quando as
palavras pulam da página para a tela, o processo de leitura vira
mais flexível e interativo. O leitor, com este grande poder
de modificar, de manipular, de sujar o texto, literalmente converte-se
em seu autor. Existe também um paralelismo instrínseco
entre as salas de chat e a ficção, pois todo mundo faz “scripts”,
inventando identidades, mascarando-se no palco. Um menino de 14 anos,
por exemplo, pode se metamorfosear (ou seja, a pergunta frequentemente
feita, “M or F”, morf) virtualmente em mulher de 21 anos.
Tudo bem . . . mas o que acontece—o que podemos
dizer—quando as palavras flutuando na tela voltam para a página
escrita, ironicamente fixando o “hipertexto” dentro de um posicionamento
tradicionalmente rígido e permanente, ou seja, transgredindo o estado,
digamos, “natural”, da sua aparente liberdade e re-inserindo-se dentro
da prisão da página escrita? É como se fossem
palavras vivas, em construção contínua, transformadas
em palavras mortas, estagnadas… Pensem na relativa liberdade do Carnaval
antes do re-estabelecimento da “ordem” hierárquica depois daqueles
dias dionisíacos de festa e de folia . . . Quais as implicações
estéticas e as conseqüências formalistas evidentes na
transposição de uma dança eletrônica de palavras
encontrando-se limitadas novamente às páginas permanentemente
marcadas de um livro, palavras transformadas em produto pronto para
ser consumido? E o que nos indica este fetichismo de construir um
transcrito, de tirar uma foto de palavras eletrônicas em movimento
para que o dinamismo vivo delas se converta em apenas memória (em
apenas aquela “folha no vento de um sonho”)?
Acho que encontraremos algumas destas respostas
ao referir-nos ao texto em si. Colibri. . . lê-se
como uma série de dez sessões de chat cujo principal fio
organizador é as “viagens” dos personagens destacados. Como
se classifica tal texto? A sua clara divisão em capítulos,
o progressivo desenvolvimento dos personagens, e a consistência da
temática gera uma certa continuidade que nos faz pensar no gênero
romanesco, apesar dos enredos e situações pouco convencionais.
Esta aparente continuidade estabelece-se também no final de cada
capítulo, embora de uma maneira brusca e irônica, com as palavras
“Transferência Interrompida.” Cada sessão de chat termina
de repente, sem resolução nem despedida. No entanto,
o texto, uma coletânea de conversas que gostaria de chamar de “dial
– log –ins,” usa e abusa os meios eletrônicos da comunicação
de uma maneira tão informal e espontânea que parecem imitar
a convenção do diálogo que se encontra no teatro,
tendo muito a ver com a arte da improvisação. O livro,
pois, pode ser lido e apreciado também como peça de teatro.
Mas existem várias outras (infinitas, eu diria) tipos de leituras:
talvez o texto seja um estudo sociológico ou até antropológico
de como os “internautas” se encontram, se perdem, e se desdobram nas salas
de chat. Ou talvez a narração sirva para apresentar
uma nova língua do novo milênio, empregando um hiper-texto
experimental baseado nas convenções da “redês” (ou
seja, a linguagem da Internet), inclusive a falta de acentuação,
a falta de letra maiúscula, a falta de pontuação,
tipo negrita para expressar desabafos emocionais, descuido com a ortografia
correta, e outras feições do tipo? Será que
o emprego deste novo “jargão” chega a criticar uma linguagem particular
neologistica e ceticamente identificada no texto como “CHATura”?
Tem mais possibilidades, mais potencialidades, mas como o tempo da nossa
sessão se mede em “real time,” vou apenas destacar mais três
modos de possível interpretação. Colibri… tem
o valor cinemático e performativo de uma tele-novela, embora não
atinja a alta qualidade que esperamos da novela brasileira. Por outro
lado, o leitor crítico até pode perceber o texto como se
fosse um manual de instrução pseudo-didático, ditando
comportamentos responsáveis enquanto se visita as salas de chat.
No lugar do convencional Prefácio ou Nota do Autor, o leitor encontra
uma listinha meio séria consistindo de dez ítens, oferecendo
as “Dicas para um bom relacionamento sexual, amigável ou amoroso,
pela rede.” Mais interessante ainda é o fato que este texto
de certa maneira atualiza a fantasia pós-moderna (e portanto o pesadelo
do crítico literário) de misturar e confundir quaisquer diferenças
entre autor, personagem, ator, e espectador.
Apesar da enorme versatilidade de possíveis
classificações, gostaria de oferecer, nos poucos minutos
que me restam, uma leitura “sacanagística” deste texto, se me permitirem
uma transformação neologística do substantivo “sacanagem”
para seu equivalente e inexistente adjetivo. Em Colibri deflora os
chats…, predomina a imagética de pássaros e de vôo.
A protagonista colibri se caracteriza como carioca de 17 anos em
estado de “quase virgem.” Só depois de chegarmos ao
quinto capítulo é quando entendemos o significado do “screen
name” que ela adotou. Durante uma das suas ciber- conversas, ela
tecla: “colibri e um passaro tropical que vive de nectar e por isso
tambem e conhecido como beija-flor. Uma delicadeza que so a natureza
poderia criar (91).” Interessante notar aqui, de passagem, o contraste
estabelecido entre a natureza e a tecnologia. Durante Capítulo
1, “O primeiro vôo,” colibri sustenta um violento ataque eletrônico
feito por um chatter (digamos “chateiro”?) chamado de “Bob.” Este
“Bob” insiste para colibri revelar se é homem ou mulher para que
ele possa seguir com suas fantasias sexuais. Depois de ignorar pela
terceira vez a pergunta do persistente Bob, aliás, ironicamente
querendo estabelecer certezas definitivas apesar do caráter totalmente
fictício do chat, colibri responde finalmente, em texto do tipo
negrito (ou seja, gritado): “…respondendo a tua pergunta: depende
da tua fantasia. A principio colibri é colibri” (17).
Depois deste assalto sobre uma identidade enigmática que ela queria
manter escondida, colibri se recupera e relata o incidente a outro chatter,
que acaba defendendo colibri e atacando o Bob, desta vez com letras negritas
E simultaneamente maiúsculas. Colibri agradece o apoio e dá-se
conta que seus vôos cibernéticos podem ser até perigosos,
pois outra raça de pássaro bem mais agressiva também
ocupa as mesmas ondas de ciberespaço: “cara, voce nem me conhece
e me defendeu. Vou seguir o teu conselho: cuidarei do meu voo
e evitarei os urubus” (17). Aprendendo aos poucos as regras
do jogo, por assim dizer, a nossa colibri vira cada vez menos “virgem”
e mais “esperta”.
Os urubus que abundam não são
os únicos malandros do texto com vontade de cometer sacanagem no
seu sentido negativizado. Na verdade, o pior vilão em todo
o território do ciberespaço é, sem dúvida,
o “hacker.” Este personagem aparece ao longo do capítulo chamado
de “Sexo virtual ménage,” procurando assumir e representar a identidade
de outros “screen names” com a cruel meta de estragar novas amizades cibernéticas
em formação! And he or she would have won, too, if
it had not been for colibri, de certa maneira nossa heroína!
Quando ela se dá conta do “e-sacana,” começa a avisar para
todos os outros participantes da sala de chat que todos estão sendo
enganados por um voyeur possuindo as identidades (ou seja, os screen names)
de outros chatters na sala. Grita: “GENTE, TODAS
AS MENSAGENS QUE NAO TEM NICK ANTES DOS DOIS PONTOS SAO FALSAS . . . ATENCAO!!!”
(102). Interessante notar a insistência em realidades solidificadas,
dado que o meio da comunicação é virtualmente impossível.
O / A “hacker” consegue mascarar-se usando e abusando a identidade de outros
personagens na sala, temporariamente provocando interações
hostis entre os “internautas.” Este aspecto meio carnavalesco do
vôo constitui apenas uma entre várias expressões metafóricas
de adotar, assumir e desempenhar identidades performativas pós-modernistas.
Na verdade, o leitor crítico não consegue fugir do seu próprio
estado de vítima, pois os diálogos ao longo do texto são
cheios de enganos e desilusões—enfim, sacanagem por excelência.
Reconheça quanto reconhecer os traços, as características
dos personagens no texto, o leitor cuidadoso permanece na dúvida.
Por exemplo, o primeiro “screen name” a revelar seu “nome verdadeiro” (se
nele acreditarmos), faz isso—e com muita cautela e resistência—somente
durante o sexto capítulo. Personagem secundário MATT
DILON perde sua grandeza a se transformar em “just” Leonardo, encorajado
a revelar seu nome verdadeiro enquanto bate o papo com “virgem,” com quem
percebe uma crescente intimidade “internauta.” O suposto desmacaramento
do Leonardo provoca outro “coming out,” desta vez bem mais pessoal:
virgem se desmacara e transforma-se em Fabrizio, identificando-se como
homem gay que supostamente nunca vivenciou uma experiência sexual
com outro homem. O primeiro personagem a fornecer informações
“reais,” ou seja não-virtuais, faz isso somente ao final do
nono capítulo, quando virgem / Fabrizio lhe dá seu telefone
e endereço residencial para matt dilon / Leonardo. O capítulo
nove chama-se “Adeus, virgem,” refletindo muito bem a decisão deste
personagem de abandonar a segurança conseguida pelo nome “virtual”
e virar dono do seu nome “real.” Nesta altura do diálogo,
Leonardo e Fabrizio combinam um encontro “real,” ou seja físico,
mas esta reunião não se desenvolve no texto. E com
boa razão: a realidade não-virtual não entra
nas suas páginas.
Colibri, por outro lado, cultiva sua identidade
cibernética de tal maneira que, ao proclamar seu afeto pelo Eros,
ela insiste, quebrando o coração cibernético dele:
“so posso ser tua pela Internet” (21). A quentemente debatida
questão da monogamia se encontra relevante também na esfera
dos encontros virtuais, pois Eros acusa colibri de infidelidade simplesmente
porque ela resolveu estabelecer e manter relações cibersexuais
com outros chatters que freqüentam a sala. Interessantemente,
colibri equivale sexo virtual com virtude em si, destacando em determinado
momento que “nosso namoro e virtual, virtuoso.” Na verdade,
a virgindade e a virtualidade são repetidamente justapostas ao longo
do texto. Com a crescente subordinação de noções
físicas da realidade baixo a superioridade da realidade virtual,
acontecem alguns momentos marcantes e deliciosamente engraçados,
como quando um hhhh sexualmente frustradinho grita para ZOOFILA:
“nao estou sentindo sua chupada. Voce esta me chupando ou nao??????…”
(110). Durante vários encontros estabelecidos pela sala de
chat, um personagem recebe por acaso (ou talvez interceda propositalmente)
uma mensagem direcionada a outro chatter, revelando portanto um entre vários
perigos de tais vôos.
Mas ali não pára a sacanagem
do texto, não. Ao longo do livro, o gênero (no sentido
de “gender”) muitas vezes resulta ser ambíguo, alguns personagens
assumem simultaneamente múltiplos “screen names” e outros entram
em duas salas de chat ao mesmo tempo, sob a máscara de diversas
identidades. Interessante notar aqui que a tensão dramática
implícita entre apenas dois personagens da sala, contrastada com
ricas interações e jogos de sedução entre a
inteira comunidade “chateira” talvez sirva como metáfora descrevendo
como é tão diferente nosso comportamento social durante situações
grupais comparado com ambientes ocupados por apenas duas pessoas.
A heteroglossia bakhtiniana exemplificada em diálogos com vinte
ou mais “screen names” conversando (pois é, teclando) ao mesmo tempo
durante qualquer momento determinado da narração pode enjoar,
desorientar, e confundir até o leitor mais perspicaz. Talvez
interpretemos essa técnica como sendo uma reconfiguração
pós-modernista da problemática de pseudonímia, ou
em alguns casos, da heteronímia. Os personagens, na verdade,
procuram cumprir o futil sonho modernista de Fernando Pessoa quando se
desdobrou em Álvaro de Campos, ao tentar atingir um estado utópico
da existência possibilitando o “Ser tudo de todas as maneiras.”
Talvez este sonho se transforme em realidade virtual, alcançada
por produtivos vôos feitos no ciber-espaço . . .
Para terminar este nosso vôo juntos,
gostaria de apontar para minha própria experiência desconcertante
na hora de ler esse texto. Para realmente compreender o desenvolvimento
psicológico dos relacionamentos afetivos entre os vários
“screen names,” tive que ignorar o “barulho” da conversa fiada de outros
personagens secundários, interagindo de maneira tão superficial,
me distraindo dos diálogos mais intimistas estabelecidos nas comunicações
interativas da colibri, hhhh, e virgem. Neste processo frenético
de tentar privilegiar a voz de poucos num universo completamente polifônico,
tive a vaga sensação de ter me transformado em voyeur, patetica
e urgentemente querendo saber das conversas cibersexualizadas trocadas
de madrugada—encontros imaginários, sim, mas virtualmente
possíveis.
É, é verdade--eu, como crítico
literário, me converti no “hacker” mais violento do texto.
Depois de chegar meio que abruptamente no “Fim da conexão,” ou seja,
no finalzinho do texto, me pergunto se minha navegação foi
feita em vão, se realmente valeu a pena? Respondo que navegar
foi preciso, sim. Mas confesso uma pequena sacanagem da minha própria
invenção: curti, afinal de contas, uma viagem
de barco e não de avião. Foi preciso navegar num navio
carnavalesco para testar os limites da linguagem, passando das páginas
impressas de um livro, viajando até as palavras dinâmicas
produzidas pela tela do computador, e voltando novamente—fim do Carnaval—para
as páginas consagradas do livro. Durante a viagem, senti a
nítida sensação de estar afogando, sim, mas sobrevivi.
Enfim, escorreguei e mergulhei no imaginário cibernético
da sala de bate-papo com este romance.
Para encerrar esta minha comunicação
sobre a virtualidade, gostaria de reiterar principalmente sua ligação
com a ficção, e portanto, o tema do nosso painel de hoje.
Para fazer isto da maneira mais eficiente, cito apenas duas sentenças
escritas por Miriam Alves no seu artigo, “Lésbica Virtual — Configurações
de uma Cibercultura”: “O olhar virtual captura o outro naquilo que
deseja ser capturado e da forma que deseja ser capturado e capturar.
Pode-se ser o que quiser: idade, sexo, profissão, aspecto
físico, história pessoal; em outras palavras, escolhe-se
um aspecto da própria vida ou inventa-se um, como quem cria uma
personagem. Criando-se um enredo, faz-se o que se quiser, estabelece-se
uma inter-relação com o outro, numa interface” (67).