A Crítica literária no jornal e no livro (*)
Felipe Fortuna
Mestre em Literatura Brasileira (PUC/RJ), é poeta e ensaísta
Somente depois de haver sugerido o título “A Crítica Literária no Jornal e no Livro” para esta palestra pude perceber o tamanho imenso da tarefa. É como se eu tivesse proposto, para uma platéia acostumada à leitura da revista National Geographic, um texto sobre o planeta Terra intitulado “Um Lugar de Terras e de Águas”. Seria necessário – no fundo, tornou-se mesmo obrigatório – delimitar o meu campo de atuação e salientar os aspectos que me parecem mais importantes não apenas da crítica literária no jornal E no livro, mas também do comércio intelectual que se estabelece entre um meio de divulgação e outro. Como sabemos, no jornal muitas vezes nasceu o ensaio mais tarde republicado no livro; e foi no jornal que este livro, uma vez lançado, repercutiu sob a forma de resenha ou de ensaio, e assim por diante...
Se o meu campo de atuação estivesse balizado somente pelos críticos – e não pelos problemas que a crítica literária oferece aos leitores interessados –, ainda assim a minha tarefa não seria menor. Apenas entre os atuais membros desta Academia, teria de me ocupar com vocações integralmente críticas, como a de Alfredo Bosi. Poderia mecanicamente mencionar a História Concisa da Literatura Brasileira (1970), na qual alguns capítulos e, inseridos neles, alguns comentários sobre autores e obras valem por ensaios tão agudos quanto os que foram reunidos em Literatura e Resistência (2002) – e aqui recordo, por exemplo, o seu apreço por Graciliano Ramos. Para a finalidade da minha palestra, porém, eu estaria satisfeito com o ensaio “Sobre Alguns Modos de Ler Poesia: Memórias e Reflexões”, escrito por Alfredo Bosi e organizado por ele mesmo numa coletânea coletiva, Leitura de Poesia (1996), na qual o crítico paulista faz um balanço de 40 anos de sua atividade de professor e de intérprete literário. Na sua formação, vê-se um desfile de métodos e de ideologias, desde os ensaios de Dámaso Alonso, em Poesia Española, aos mestres da estilística, como Leo Spitzer, a análise do poema “Les Chats”, de Baudelaire, obra conjunta de Claude Lévi-Strauss e Roman Jakobson, e ainda o estruturalismo, o formalismo russo, o materialismo histórico de Lukács, e todos os modismos e – agora eis a minha contribuição – os ismosismos que passaram pelos livros e pelas universidades. Foi no seu balanço acadêmico e docente que encontrei o roteiro de uma perdição, pois o professor escreve: CITO “Quisesse alguém mapear as correntes cruzadas ou paralelas da crítica recente, deveria fazer o trabalho de um cartógrafo de meandros. As águas, mal divididas, fluem umas nas outras.”[1]
Ainda na rubrica das vocações integralmente críticas, devo mencionar o Eduardo Portella de Literatura e Realidade Nacional (1963) – livro dedicado a Alceu Amoroso Lima e Afrânio Coutinho –, onde encontro o capítulo “Crítica Literária: Brasileira e Totalizante”. Ali tomei conhecimento de um problema que está no cerne da minha palestra sobre o jornal e o livro: o debate havido sobre a crítica de rodapé, tachada de amadorista (cuja maior encarnação, entre nós, teria sido Álvaro Lins) e a crítica universitária. Sobre a peleja iniciada e levada a termo por Afrânio Coutinho, o discípulo Eduardo Portella não usou meias palavras: CITO “Ele mostrou, com intransigência e às vezes até com violência, todo um sistema de idéias novas, que se opunha radicalmente àquela entidade inconseqüente e amorfa que era a crítica nas mãos dos nossos críticos de então.”[2] Também na Faculdade de Letras pude ler “Limites Ilimitados da Teoria Literária”, ensaio no qual o crítico baiano comentou o “alargamento interdisciplinar” da interpretação.[3]
Ao meu lado tenho Antonio Carlos Secchin, que compõe o grupo atual dos poetas e críticos, assim como Lêdo Ivo, Ivan Junqueira e Domício Proença Filho, cada um deles com suas memórias de leitor de poesia. E justamente no ensaio “Memórias de um Leitor de Poesia”, que dá título ao seu livro mais recente, encontro outra forte afirmação a nortear minha palestra: “Ora, a negação do conhecimento teórico camufla apenas o elogio da ignorância. A prática interpretativa não se reduz ao domínio do aspecto técnico, mas, de todo modo, não pode fazer-se sem ele.”[4]
Assim sendo, uma simples amostragem de vocações críticas não atenua a ambição do projeto de delimitar a idéia mesma de crítica literária – pelo contrário, o terreno parece mais movediço e o campo de atuação ainda maior. Para lembrar a comparação inicial, o planeta Terra ressurge com mais terras e mais águas.
Diante do título “A Crítica Literária no Jornal e no Livro”, proponho então considerar alguns aspectos mais insistentes e capazes de gerar polêmicas – polêmicas que já se alargam no tempo, talvez por não serem pacificáveis. E tentar uma operação mágica por meio da qual, em vez de ampliar a crítica literária à atividade daqueles dois veículos de idéias, o jornal e o livro, tentarei reduzi-la a algumas poucas, mas aflitivas questões. O jornal e o livro apresentam diferenças evidentes de recepção e de repercussão, e implicam mudanças de forma e de conteúdo – o que, por fim, permite fazer a primeira divisão no assunto vasto da crítica literária. Posso adiantar que a primeira redução diz respeito a como as resenhas constroem um livro.
AS RESENHAS CONSTROEM O LIVRO
Em relação à resenha, forma imediatamente associada ao jornal, persiste a percepção de que, por ser episódica, geralmente curta e dependente de um lançamento editorial – a sua capacidade analítica deixa de ser forte, passando a dominar o impressionismo. Eu mesmo, quando comecei a escrever resenhas, pude afirmar o seguinte na introdução da minha primeira coletânea de crítica literária, A Escola da Sedução, de 1991: “A crítica literária foi substituída por um anêmico jornalismo cultural: é comum que o jornalista comente, ao longo de um só mês, cinema, teatro e literatura - e mostre indisfarçável desconhecimento de causa. A prática absurda e compulsiva da resenha, condicionada pelo mercado, converteu a opinião em simples registro do lançamento de livros - e o colaborador em garoto-propaganda mal pago e iludido.”
Obviamente, a opção pela análise de um livro resolveria parte do problema. Mas uma outra parte do problema diz respeito à persistente impressão de que uma coletânea de resenhas não reflete, necessariamente, um pensamento coerente ou uma visão sistemática acerca de um assunto qualquer.
Essa impressão pode ser verdadeira ocasionalmente, pois há de fato coletâneas de textos díspares, geralmente elogiosos, que não cumprem propriamente uma análise ou uma avaliação do texto literário. Mas é preciso considerar caso a caso a existência dessas coletâneas elaboradas sem um plano predefinido. Mário de Andrade foi um dos muitos escritores que formou o principal da sua crítica literária nas páginas das revistas e dos jornais, com notável militância e regularidade. A uma das compilações deu o título de O Empalhador de Passarinho (1944): obviamente, o escritor paulista aproximou sua atividade crítica à de um taxidermista, que paralisa e conserva o animal (no caso, a literatura) em alguma posição ideal para estudo e análise. No livro, contudo, não há qualquer prefácio explicativo sobre as escolhas feitas em seu período de atividade jornalística. Mas, tal como ele mesmo informou no indispensável Aspectos da Literatura Brasileira (1943), se pode presumir que os seus ensaios foram escritos CITO “mais ou menos ao léu das circunstâncias e do meu prazer.”[5]
A compilação de resenhas, portanto, pode muitas vezes resultar no surgimento de um “livro involuntário” - conforme a certeira definição dada pelos organizadores dos artigos até então dispersos de Alexandre Eulálio.[6] Ele escreveu no prefácio ao livro que CITO “com o caráter dispersivo e aleatório que lhe é próprio, a imprensa continuou a ser o foro animado e apaixonado de debates literários e intelectuais (...)”. Erudito e fortemente atraído pela pesquisa histórica, o crítico parecia desinteressado em conceber livros previamente planejados, havendo publicado apenas A Aventura Brasileira de Blaise Cendrars (1978), como se ainda insatisfeito com a quantidade das informações que encontrara em seus estudos de especialista. Na mesma linhagem do “livro involuntário” podem ser incluídos os ensaios críticos de Walnice Nogueira Galvão, reunidos em Saco de Gatos (1976), que não trazem qualquer registro sobre onde foram originalmente publicados ou explicação sobre suas circunstâncias. Em casos assim, o leitor está diante de critérios de seleção desconhecidos, embora possa ler textos tão circunstanciais e prazerosos quanto os de Mário de Andrade.
Contrária à noção de livro involuntário está a de “eixo articulador” - conforme define Luiz Costa Lima na introdução a Intervenções (2002), que explica haver reunido os seus artigos com CITO “o cuidado de que não fossem uma simples miscelânea” FIM. No caso do material publicado em revistas diversas e suplementos culturais, a obsessão do crítico é notável, bem como sua aflição por saber se teria “alcançado a unidade que espero de um livro”, conforme escreveu.[7] Ora, a singularidade da publicação dos livros a serem analisados, entre outros fatores, poderia até mesmo se tornar uma dimensão adicional a enriquecer a interpretação do crítico, e não um obstáculo do qual este pretende escapar de modo sinuoso. Igual e aflitiva tendência caracteriza o modelo de alta crítica literária que é A Voz e a Série (1998), de Flora Süssekind, no qual a reunião de um “material de certo modo heterogêneo” e a aparição do que “não é um livro planejado como tal” apontariam, contudo, para as duas linhas de investigação mencionadas no título.[8]
Involuntária ou não, articulada ou não, a crítica literária não deve escapar a seu destino mais evidente: o potencial para influenciar as tendências de pensamento e, desse modo, o gosto e os modos de desfrutar o texto. A atividade crítica provoca importante reverberação social, com efeitos no mercado que devem ser continuamente aferidos e avaliados. Motivações econômicas - que, no seu limite, ameaçam até mesmo a existência do livro como objeto - procuram reduzir o espaço da opinião naqueles meios que há pouco serviam com galhardia ao debate de idéias. Nos jornais, multiplicam-se suplementos coloridos dedicados à televisão, aos carros, à informática – nos quais toda apreciação crítica é trocada pela palavra de ordem do consumo. No inferno da cultura de massa, a resenha tem-se transformado em paráfrase insegura sobre o tema de um livro, mas não sobre o livro em si, e quase sempre se vale da linguagem editorial de press releases e sinopses. Um romancista bem situado em relação ao problema, como o norteamericano John Updike - uma vez que era também resenhista insistente - conhece a responsabilidade da crítica, que prestaria “um evidente e desejado serviço social”, conforme se lê na introdução a uma vasta coletânea de resenhas, Hugging the Shore (1983).[9] O escritor também afirma que as resenhas “nos dão sensações literárias em forma concentrada” e são “fofocas de um tipo mais elevado”.
Em alguns casos, a influência da resenha ou do ensaio acaba transformando a obra sob análise. Eu e muitos leitores fomos surpreendidos pela decisão de Adélia Prado de abjurar 12 poemas de seu livro A Faca no Peito (1988) - primeiramente, em carta publicada no Jornal do Brasil, em 10 de março de 1990 e, em seguida, na sua Poesia Reunida (1991). A raríssima atitude da poeta, que agradeceu as observações feitas por mim numa resenha, jamais contaria com a minha aprovação: depois de publicado, um livro (com suas ideias e sua forma) dificilmente desaparece de circulação. Combinam-se um elemento sacrifical e um gesto de renúncia religiosa nos cortes a que Adélia Prado se impôs no seu livro e no uso do verbo abjurar, tanto mais intensificados nas entrevistas nas quais a poeta voltou ao assunto, em atitude humilde. O fato é que a sua decisão honesta e explícita muitas vezes ocorre a outros escritores, sobretudo os que se republicam em antologias ou compilações, embora de modo dissimulado e quase imperceptível para os que não acompanham atentamente uma obra.
Creio que o episódio com a recepção da minha crítica por Adélia Prado não constitui – em hipótese alguma – uma polêmica. Pelo contrário, a aceitação pela poeta, que eliminou poemas da sua obra a partir de então, constitui um corte consciente e autoproclamado, que pode ser estudado em seus efeitos.
Mas nem todos os cortes feitos pelos autores são atribuídos a alguma diretriz ou a algum princípio. É notória, nesse sentido, a poesia reunida e revista de Armando Freitas Filho em Máquina de Escrever (2003), na qual o poeta assume haver trabalhado “com duas facas”: a do cirurgião (para o passado) e a do caçador (para o presente). Somente uma crítica genética poderá explicitar os componentes formais e o contexto cultural onde se processou a operação cirúrgica; mas logo se percebe que a filiação do poeta à Instauração Práxis foi remediada, quando não extirpada, com vistas a um calculado distanciamento daquela fase literária. Essa operação foi benignamente seguida por uma parte da crítica: seja na apresentação do livro, por Sebastião Uchôa Leite, que só comenta a obra do poeta a partir de 1982; seja no prefácio de Viviana Bosi, que só considera a filiação do poeta àquele movimento “por afinidade de espectro amplo”. A simples consulta à bibliografia sobre Armando Freitas Filho teria o poder de contrariar tal percepção: a crítica literária, nesses casos, faz o poeta abjurar pelo menos uma década de formação e de opção estética, e não apenas alguns poemas.[10]
Os comentários sobre a construção de um corpus crítico coerente e sistêmico, a partir de resenhas dispersas, foram incluídos no meu livro mais recente, Esta Poesia e Mais Outra (2010), editado pela Topbooks. Com ele, tive o propósito duplo de demonstrar que, por um lado, seria possível tornar voluntária uma produção que pode nascer, de fato, de modo involuntário – ao sabor do mercado e das oportunidades nas páginas dos jornais. Por outro lado, comprovar que a influência da crítica sobre a obra literária (não interessando se na forma de uma crítica de rodapé, de resenha ou de ensaio acadêmico) se revela profunda e capaz de, por si, provocar modificações, cortes, revisões e adulterações significativas. Nesse jogo de correções entre o texto literário e o texto crítico – infinito jogo – está uma dimensões das mais atraentes daquilo que se chama de literatura.
POLÊMICA E DESPRESTÍGIO DA CRÍTICA
Mas reconheço que uma característica das resenhas é poder provocar, imediatamente, a polêmica. Por impressionante que pareça, a polêmica não constitui tradição em nossa literatura ou, modernamente, das escassas publicações literárias que ainda se mantêm. Por mais que a polêmica tenha sido definidora no sistema literário brasileiro em formação, a exemplo da questão do indianismo e do modernismo, é notório que o debate de idéias e o confronto de posições não são coisas nossas, ao contrário do que ocorre em outros sistemas literários. A explicação para o fenômeno pode apontar para uma vida acadêmica ainda nova e mais sedentária do que ativa, na qual se publica pouco e, em conseqüência, há pouco debate – em especial, sobre o que ocorre na literatura brasileira contemporânea. Por outro lado, os poucos espaços na imprensa não trazem sequer uma seção de cartas dos leitores! As seções de cartas de alguns suplementos literários internacionais por vezes alongam os temas trazidos por uma resenha por semanas a fio, com adições importantes de professores e scholars.
Aqui se pode recordar a análise lúcida, mas também derrotista de Luiz Costa Lima sobre a precariedade do sistema intelectual no Brasil, marcado bem mais por uma cultura da persuasão, sem entendimento e sem vocação reflexiva.[11]
Todo esse quadro paradoxal – uma vez que a cultura se produz por meio de tensões e, para alcançá-las, é preciso a polêmica pouco vista em nosso modo de acomodações – ainda se junta a um problema contemporâneo.
Comenta-se com frequência sobre o desprestígio da crítica literária atualmente – e não apenas no Brasil, mas naqueles países (a exemplo da França, dos Estados Unidos e da Grã Bretanha) onde a crítica literária refletia, de algum modo, o alto valor da literatura. Não há mais centralidade em relação ao texto literário, confrontado, até mesmo em termos de tempo médio de consumo, aos meios audiovisuais e digitais.
Há uma evidente diminuição de espaço quando se trata do debate literário. No Brasil, a palavra “literário” desapareceu de todos os suplementos antes em vigor. Nenhum deles sequer utiliza a palavra “livro” em seu título, como se o livro tivesse sido abandonado numa época anterior ao aparecimento das mídias eletrônicas. Há suplementos de autos, de informática, de turismo, de televisão e de mercado financeiro e, inevitavelmente, o caderno de classificados. Há um suplemento de gastronomia intitulado Paladar – privilégio de um só dos nossos sentidos, aparentemente. No jornal O Estado de S. Paulo, há um segundo caderno intitulado C2 + Música, ou seja, com ênfase numa forma de cultura altamente lucrativa em forma de rock, jazz ou popular brasileira. No Rio de Janeiro, desapareceu juntamente com o tradicional Jornal do Brasil o suplemento Ideias & Livros, que cuidou, durante décadas, de lançamentos e de debates sobre literatura. Ali trabalhei, mal chegado aos vinte anos de idade, na equipe inicial do suplemento. E, na sua fase final (eu diria terminal), assinava uma coluna na qual procurei manter um tom analítico e mesmo ensaístico às resenhas que escrevi. Foi com alguma angústia que vi as páginas do suplemento minguarem até sua extinção, pouco a pouco tomadas por matérias estranhas à literatura, que se infiltravam de forma, a meu ver, pestilenta...
Foram-se os tempos, ao que parece, nos quais a resenha de um livro poderia ser tão consagradora quanto a que José Lins do Rego recebeu após escrever Menino de Engenho (1932). João Ribeiro publicara, no Jornal do Brasil, uma avaliação tão elogiosa daquela estréia literária que o escritor paraibano confessou haver dormido com o recorte da resenha no bolso do pijama. [12]
A surpresa e o encantamento não se encontram, porém, apenas do lado do autor de uma obra bem-aceita: o crítico também expressa deslumbramento quando percebe novos valores na literatura. É o que aconteceu com Antonio Candido quando escreveu sobre outra estréia, em resenha de 1944: CITO “tive verdadeiro choque ao ler o romance diferente que é Perto do Coração Selvagem, da sra. Clarice Lispector, escritora até aqui desconhecida para mim.” FIM Em seguida, tentou traduzir os aspectos essenciais desse “choque”, buscando sua melhor formulação: “este romance é uma tentativa impressionante de levar nossa língua canhestra para domínios pouco explorados, forçando-a a adaptar-se a um pensamento cheio de mistério, para o qual, se sente, a ficção não é um exercício ou uma aventura afetiva, mas um instrumento real do espírito, apto a nos fazer penetrar em alguns dos labirintos mais retorcidos da mente.”[13]
No ano anterior, uma estréia na poesia já havia captado a atenção do crítico, que se via chamado a apresentá-la aos seus leitores: CITO “Pedra do Sono é a obra de um poeta extremamente consciente, que procura construir um mundo fechado para a sua emoção, a partir da escuridão das visões oníricas.” Quanto a ao autor do livro, João Cabral de Melo Neto, o crítico observava: “Não o chamo, porém, de cubista, porque ele não é só isso. O seu cubismo de construção é sobrevoado por um senso surrealista da poesia.”[14]
Aos 92 anos, e apesar de considerar encerrada a sua trajetória intelectual, Antonio Candido continua a refletir sobre a crítica literária no Brasil. Pelo menos foi o que se assistiu, em julho deste ano, na Festa Literária Internacional de Paraty. O ensaísta e crítico militante declarou que “a crítica universitária acadêmica é uma atividade sem riscos, extremamente segura” – que produz, acrescento eu, teses e ensaios para publicação. Essa atividade se opõe, na sua opinião, à do crítico que julga os lançamentos e se arrisca a apontar livros bons e livros ruins do mercado editorial. “Isso acabou”, resumiu Antonio Candido.[15]
De fato, a falta de riscos apontada pelo crítico teria atenuado a possibilidade de polêmicas e, com ela, até mesmo o impacto da autoridade de um crítico diante de uma estréia promissora. Assim como aconteceu com José Lins Rego, outro escritor brasileiro, Rubem Fonseca, mereceu palavras de encorajamento dos seus primeiros críticos. Recorde-se, por exemplo, a ênfase de Assis Brasil: “Podemos agora destacar o volume de contos de um estreante, Rubem Fonseca (Os Prisioneiros, 1963), no nível de qualidade dos poucos lançamentos. Sua presença como criador, com algo de originalidade, leva-nos a destacá-lo com entusiasmo.”[16] Com a publicação de A Coleira do Cão, em 1966, o escritor recebeu o seguinte julgamento de Wilson Martins: “O sr. Rubem Fonseca vence brilhantemente a prova do segundo livro, muito mais perigosa e repleta de ciladas que a do primeiro. (...) A literatura brasileira ganhou um dos seus escritores mais importantes, pois é evidente que ele se inscreve não somente entre os que têm ou podem ter um eventual interesse por si mesmo, no interior dos seus limites individuais, mas, também, entre os que acrescentam alguma coisa ao gênero que praticam. (...) “A Força Humana”, por exemplo, não é apenas um dos melhores contos brasileiros até hoje escritos; é, também, um dos melhores contos da literatura universal.”[17]
Essas numerosas menções a autores e críticos dizem muito do impacto da opinião profissional para a consolidação de uma obra e para a circulação de idéias. Mas não conseguem ocultar os protestos que as resenhas já mereceram de autores analisados e, também, de autores desconfiados do comércio existente (seja no jornalismo, seja numa vaga “indústria cultural”) para o estabelecimento das reputações.
Talvez ainda tenha alguma notoriedade o comentário que Jean-Paul Sartre escreveu no primeiro capítulo de O Que é a Literatura? (1948) quando afirma que “a maioria dos críticos são homens que não tiveram muitas oportunidades” e que, quando estavam prestes a se desesperarem, encontraram na leitura e na biblioteca CITO “um pequeno lugar tranquilo de guardião de cemitério.” FIM[18] Seria esse o retrato bem acabado de uma atividade inofensiva que trata de autores desaparecidos com a vivacidade típica de quem trabalha silenciosamente, podendo estabelecer sobre os mortos a interpretação que mais condiz com os seus estudos e a sua personalidade evasiva. Esse seria o exemplo modelar de um crítico acadêmico ou, nos nossos dias, de um ensaísta universitário.
Por outro lado, George Orwell escreveu, em 1946, a mais conhecida diatribe contra o resenhista, colocando-o num ambiente sórdido de redação de jornal no qual deve enfrentar pelo menos três livros sobre cujos temas é completamente ignorante. Após descrever as frases vazias que formam o núcleo das apreciações de rotina (por exemplo, “um livro que não se deve perder”, “essas pequenas falhas não atrapalham o conjunto”), o romancista inglês conclui que o resenhista CITO “está derramando o seu espírito imortal no ralo, meio litro a cada vez.” FIM[19] Anos depois, também fatigada com a situação nos suplementos literários, Elizabeth Hardwick escreveu um artigo sem meias palavras na revista Harper's, em outubro de 1959, “O Declínio da Resenha de Livros”, no qual reclamava da inconsistência de opinião sobre os livros publicados e da existência de uma “acomodação universal, como se lobotomizada, que reina.”[20] Foi o bastante para que, em 1963, um grupo de escritores e jornalistas lançasse The New York Review of Books, com o objetivo principal de arregimentar um conjunto de colaboradores para examinar e opinar, de maneira crítica e até polêmica, sobre os lançamentos em poesia, ficção e não-ficção.
Eis, portanto, uma conclusão incontestável do embate entre as resenhas que antevêem e consagram, as resenhas escritas burocraticamente, por força do mercado, e as resenhas sem idéias: são muitos os que lêem resenhas. Possivelmente, o público das resenhas é maior do que o público de livros – o que justifica todo o rigor aplicado à descrição, análise e discussão de um lançamento, seja o seu autor um clássico ou um desconhecido. O trabalho da resenha e da crítica, em que pese o eventual menosprezo de quem o contrapõe ao trabalho da criação, tem a mesma importância da recensão entre acadêmicos (peer review), ou da orientação de tese ou do parecer editorial.
Mas existe algo de novo no ar: possivelmente, a rapidez e a quantidade das informações, multiplicadas por sua difusão pelos mais diversos meios, incluindo os eletrônicos, têm forçado a resenha a assumir a condição de peça obsoleta e ultrapassada. Agora se pode consultar com facilidade os blogs de pessoas ou grupos que se devotam a um escritor, além das indicações e comentários de leitores em sites do tipo amazon.com, ou mesmo em programas de auditório – o que decretaria a morte do resenhista e do crítico literário. Juízos sumários dos proprietários de revistas e jornais podem decidir pelo fechamento dos suplementos ou ao menos da seção de livros, uma vez que se comprove serem pouco lucrativos. Essa tendência destrutiva – o espaço dos livros substituído pelo espaço dos anúncios – já se manifestou em jornais como Los Angeles Times e Village Voice, por exemplo. É difícil avaliar que forma de cultura – ou melhor, que qualidade de cultura – poderá brotar de decisões milimetricamente fundamentadas nos critérios pouco diletantes do retorno financeiro imediato. Ironicamente, talvez seja necessário buscar sugestões num futuro livro de auto-ajuda para fugir às forças que podem exterminar o debate.
Ou talvez a síntese da crítica literária praticada no jornal e no livro esteja no seu próprio declínio. A crítica apenas acompanharia CITO a “crise geral de produção do conhecimento nas ciências humanas e, igualmente, da crise dos paradigmas modernos de invenção, representação e valor nos diferentes domínios do simbólico.” FIM Trata-se de uma avaliação que pode soar antiga, mas é recentíssima: quem a escreveu, numa análise sobre o declínio do ensaísmo no Brasil, foi o professor Francisco Foot Hardman, em longo artigo publicado no sábado passado (27 de agosto de 2011), no jornal O Estado de S. Paulo. Nesse sentido, pouco importa o debate sobre se a crítica literária no jornal é impressionista e se a crítica literária feita na universidade para o livro não é.
O JORNAL E O LIVRO
Muito se comenta sobre o antagonismo entre o escritor e o crítico – como se houvesse uma simbologia do criador e do censor. Há um capítulo de Confieso que he Vivido (1973), livro póstumo, no qual Pablo Neruda relembra a existência de um crítico que sempre o importunou com ressalvas muito severas, inevitáveis cada vez que o poeta publicava um novo livro, ao longo de toda a sua carreira. Seria esse um caso de perseguição em vida. Mas tampouco se pode ocultar que os críticos, sejam críticos de jornal ou críticos de livro, conseguem também estabelecer entre si fortes antagonismos, por vezes mais fortes do que entre autores e críticos. Foi o caso do já mencionado embate entre Afrânio Coutinho e Álvaro Lins, no episódio da crítica da crítica. Mais raramente, a perseguição se dá post mortem. No ano passado, dias após o falecimento de Wilson Martins, a crítica Flora Süssekind escreveu longo artigo no qual analisava os obituários sobre o autor de História da Inteligência Brasileira (1978), tendo chegado à conclusão de que se podia perceber CITO “o apequenamento e a perda de conteúdo significativo da discussão crítica, assim como da dimensão social da literatura no país nas últimas décadas.”[21] Ali, a crítica detectava “a perda de lugar social da crítica” e questionava “qual o interesse de um comentário crítico quando se pode obter muito mais visibilidade para escritores e lançamentos por meio de entrevistas, notas em colunas sociais e participações em eventos de todo tipo.” Os necrológios de Wilson Martins foram implacavelmente criticados, uma vez que faltaria ao crítico morto maior capacidade analítica – e faltaria aos obituaristas, por sua vez, maior empenho por uma literatura que não representasse, apenas, “um passado de glórias” e mesmo uma concepção de intelligentsia que estivesse delimitada ao “campo puro do literário”.
Uma conclusão parcial indica que o crítico de rodapé está em vias de extinção ou desapareceu por completo – mas subsiste ainda um embate pelo possível território da crítica, qualquer que venha a ser este.
No Brasil, ao menos com abrangência nacional, apenas o jornal O Globo mantém um suplemento, Prosa & Verso, quase sempre dedicado a livros e ao debate literário. Nas suas páginas mantém-se com regularidade um comentarista de livros, José Castello, que busca, ele mesmo, contrastar com os passados críticos de rodapé no plano do julgamento da obra; e com os críticos acadêmicos no tocante ao uso de um método. A sua atividade crítica permite analisar uma relação com o livro antes não presente nas páginas literárias. Posso fazer referência, por exemplo, ao crítico que repele a teoria – não porque a exponha para, em seguida, rejeitá-la; mas porque se apraz em rejeitá-la sem querer mesmo conhecê-la, por inútil que é, na sua percepção, para o entendimento ou para o debate da obra literária.
Parece-me proveitoso salientar alguns métodos da crítica literária no jornal e no livro tendo por ponto de partida um comentário de José Castello sobre um livro recente do crítico Davi Arrigucci Jr., O Guardador de Segredos. Comentário que é tanto mais pertinente na medida em que se encontram, de um lado, o jornalista agora na posição de cronista literário; e, de outro, o professor universitário e ensaísta renomado, que acabara de reunir textos quase sempre publicados em jornal ou escritos sob encomenda para serem estampados como prefácios em livros alheios. No artigo “Trouxeste a Chave?”, publicado em 12 de junho de 2010, no suplemento Prosa & Verso, José Castello afirma algo que parece constante em seus comentários: CITO “todo esforço de conhecimento, de leitura do mundo, não passa de uma lenta e interminável ronda em torno de um enigma.” FIM Em seguida, há uma estratégia que poderia possivelmente iludir um leitor menos atento, mas não deve ser despercebida[22] por quem se interessa por literatura. É que o comentarista afirma: “Reencontro estas ideias, que se agitam dentro de mim, lendo O Guardador de Segredos. (...) Elas se condensam, de maneira especial, a partir da página 219, em uma entrevista [de Davi Arrigucci].”
Em momento algum o leitor de “Trouxeste a Chave?” ficará sabendo que o livro reúne ensaios sobre Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Cecília Meireles, Roberto Piva. O que parecerá ainda mais estranho quando se descobre que O Guardador de Segredos traz um ensaio sobre João Cabral de Melo Neto, poeta que constituiu, por sua vez, tema da biografia O Homem sem Alma, de José Castello. Mas nada disso – preciso repetir – será do conhecimento de quem lê o comentarista, que ao menos escreve a seguir: CITO “Sou um leitor leigo, conheço minhas limitações – e delas parto. (...) No fim, estamos todos diante de nossa ignorância. (...) Minha leitura dos ensaios de Arrigucci, insisto, é precária e lateral.” Surpreendentemente, se os ensaios foram de fato lidos, o leitor jamais saberá, pois não há qualquer referência ou elemento de crítica acerca dos demais dezoito textos que compõem o livro, além da entrevista citada. E prossegue o comentarista José Castello: “Com minhas mãos grossas, muitas vezes não consigo acompanhar os passos de Arrigucci.” É tempo, afinal, de perguntar em que posição se encontra o autor de “Trouxeste a Chave?” no momento em que enfrenta um crítico literário que, afinal, propôs interpretações e fez, sim, afirmações peremptórias e mesmo arriscadas sobre poetas e prosadores. Posição que não se resume a acompanhar passos com as mãos, mas poderá demonstrar maior altitude e evitar o ultra impressionismo.
No ensaio sobre João Cabral de Melo Neto, por exemplo – de cuja existência o leitor do artigo de jornal nunca soube –, Davi Arrigucci Jr. não se intimida em confirmar suas percepções de crítico sob o peso da palavra “verdade”, em pelo menos três ocasiões. Numa, quando compara a ideia de composição para Manuel Bandeira e para o autor de Quaderna (1960). Outra, quando comenta as noções de funcionalidade e de trabalho na poesia de João Cabral de Melo Neto. Por fim, quando interpreta o poema “Tecendo a Manhã”, daquele poeta pernambucano, informa: “Embora a leitura alegórica se desprenda com facilidade dessa construção tão articulada e demonstrativa, a verdade é que a imagem final justaposta (...) traz consigo muito maior carga significativa em sua admirável força plástica.”[23] É que a verdade representa, enfim, a convicção do poeta quanto à sua compreensão do texto literário – que, para um crítico – para um crítico genuíno – não permanece oculta nem inacessível. A leitura aprofundada da entrevista que Davi Arrigucci Jr. concedeu e José Castello mencionou permitiria, a propósito, convencer sobre a importância da teoria e da prática da interpretação. O crítico paulista aposta decisivamente na compreensão, que “consiste justamente na penetração na estrutura significativa da obra.”[24] A lição do crítico é, explicitamente, CITO “colocar de lado as minhas crenças, os meus conhecimentos, para poder encarar sem preconceito o texto a ser compreendido (...). Devo me entregar, generosamente, a um embate direto com o texto.”FIM[25] É esse esforço analítico, essa possibilidade de se livrar da ordinária descrição de reações nervosas e de estados emocionais que pode produzir a compreensão e, por fim, guiar o crítico e a leitura. Ao contrário do que possa parecer a um analista despreparado, não há sombras nem intuições de formas que impeçam o decisivo ato crítico. E é Davi Arrigucci Jr. quem, na mesma entrevista, arremata: “Minha certeza de estar no caminho certo deve ser reconfirmada, por esse movimento circular, a cada passo no labirinto do sentido.”
A aversão à teoria e ao método já constitui um mantra em países pouco organizados educacionalmente, como é o Brasil. Um crítico como Luiz Costa Lima chegou mesmo, em diversos ensaios, e também em artigo publicado em 2010 nas páginas do mesmo Prosa & Verso, a perguntar sobre o “grau de tolerância à leitura de que são capazes nossos atuais críticos e resenhadores.”[26]
Ao concluir essa apreciação – quase impossível por sua ambição – da crítica literária que se pratica entre nós (e já se pratica em estado de crise), imagino que ficou ultrapassado o confronto entre a crítica jornalística e a crítica acadêmica. Em ambas, idealmente, deveria prevalecer uma dose considerável de ousadia e de poder interpretativo. Se os jornais continuarem a existir, e seja qual for a estratégia do crítico e do leitor, a resenha não deveria perder suas qualidades vitais: o primado da opinião, a ênfase analítica, a tendência ao debate. Deveria ocupar muito mais espaço do que costuma nesses tempos difíceis para a leitura que exige reflexão.
* Palestra apresentada na Academia Brasileira de Letras em 30 de agosto de 2011
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Notas:
[1] Alfredo Bosi (org.), Leitura de Poesia (São Paulo: Ática, 1996), p.38.
[2] Eduardo Portella, Literatura e Realidade Nacional [1963] (Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975, 3ª edição), p.56
[3] “Limites Ilimitados da Teoria Literária”, in Teoria Literária (Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1979, 3ª edição), p.7-18.
[4] Antonio Carlos Secchin, Memórias de um Leitor de Poesia (Rio de Janeiro: Topbooks, 2010), p.19-20.
[5] Mário de Andrade, Aspectos da Literatura Brasileira (São Paulo: Martins, 1974, 5ª edição), p.3.
[6] Alexandre Eulálio, Livro Involuntário (Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1993). O crítico escreve no prefácio ao livro: “Com o caráter dispersivo e aleatório que lhe é próprio, a imprensa continuou a ser o foro animado e apaixonado de debates literários e intelectuais (...)”, p.9.
[7] Cf. Luiz Costa Lima, “Nota Introdutória”, in Intervenções (São Paulo: Editora da USP, 2002), p.11-12.
[8] Cf. Flora Süssekind, “Nota Prévia”, in A Voz e a Série (Belo Horizonte: Sette Letras/Editora da UFMG, 1998), p.9.
[9] Cf. John Updike, “Foreword”, in Hugging the Shore (London: André Deutsche, 1984), p.xvii. O escritor também afirma que a resenhas literárias “nos dão sensações literárias em forma concentrada” e são “fofocas de um tipo mais elevado”.
[10] Cf. Sebastião Uchoa Leite, “Itinerário de Armando”, possivelmente a maior apresentação já publicada mundialmente em livro no formato de orelha; e Viviana Bosi, “Objeto Urgente”, por sua vez amálgama de dois artigos anteriormente publicados, aos quais “foram feitos acréscimos e cortes”; in Armando Freitas Filho, Máquina de Escrever (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003), p.5-25.
[11] Luiz Costa Lima, “Da Existência Precária: o Sistema Intelectual no Brasil”, in Dispersa Demanda (Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1981), p.3-29.
[12] O artigo, de 8 de setembro de 1932, pode ser lido no livro organizado por Eduardo Coutinho e Ângela Bezerra de Castro, José Lins do Rego – Coleção Fortuna Crítica 7 (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/FUNESC, 1990), p.227-229.
[13] Cf. Antonio Candido, “Perto do Coração Selvagem”, artigo publicado no jornal Folha da Manhã em 16.07.1944, e republicado em Vários Escritos (São Paulo: Duas Cidades, 1977, 2ª edição), com o título de “No Raiar de Clarice Lispector”, p.125-131.
[14] Cf. Antonio Candido, “Poesia ao Norte”, artigo publicado no jornal Folha da Manhã em 13.06.1943, e republicado em Textos de Intervenção (São Paulo: Duas Cidades/Editora 34, 2002), p.135-142.
[15] ‘“Sou Encalhado no Passado”, diz Antonio Candido em Paraty', Folha de S. Paulo, 7 de julho de 2011, p.C9.
[16] Resenha publicada no Jornal do Brasil, em 18.10.1963.
[17] Wilson Martins, “A Escada da Glória”, publicada em O Estado de S. Paulo, 19.03.1966.
[18] Jean-Paul Sartre, Qu'Est-ce la Littérature? (Paris: Gallimard, 1948), p.35-36.
[19] Cf. George Orwell, “Confessions of a Book Reviewer”, publicada no jornal londrino Tribune, em 03.05.1946. Republicado em Shooting an Elephant (New York: Harcourt Brace and Co., 1950). Tradução minha.
[20] O artigo original pode ser atualmente consultado em http://www.harpers.org/archive/1959/10/0009136
[21] “A Crítica como Papel de Bala”, O Globo, suplemento Prosa & Verso, 24 de abril de 2010.
[22] O verbo está no Aurélio e, portanto, também na língua portuguesa, datado de 1344.
[23] Davi Arrigucci Jr., “João Cabral: o Trabalho de Arte”, in O Guardador de Segredos (São Paulo: Companhia das Letras, 2010), p.27 e p.32.
[24] “Em Busca do Sentido”, Op. cit., p.221.
[25] Op. cit., p.228.
[26] Luiz Costa Lima, “O ABC da Crítica Literária”, suplemento Prosa & Verso, O Globo, 29 de maio de 2010, p.5. Em relação à aversão à teoria e ao método, vale lembrar a seguinte percepção de José Castello: “Um termômetro mede a temperatura, e não os batimentos cardíacos. Um estetoscópio ausculta o coração, ou os pulmões, e não a massa corporal. Uma balança registra o peso – e assim por diante. Com a teoria X, assim também, só se chega ao próprio X. Com Y, a Y, e assim vai. Por mais profundos e exatos que sejam, os recortes traçados pela teoria deixam escapar o Outro – isto é, tudo o que não lhe compete ver, ou medir.” “O Gosto do Neutro”, suplemento Prosa & Verso, O Globo, 23 de julho de 2011, p.4
Texto e nviado pelo autor