BISCOITOS
(28/11/2007 – no HSE RJ)

Terça-feira, tarde chuvosa, 17:30 horas.
No meio do engarrafamento na Avenida Brasil, RJ, direção Caxias, libertei o pensamento e o olhar passeou pelo entorno. Tudo conhecido, nada novo, a não ser aquela figura humana, encostada a amurada de um dos viadutos de acesso à Ponte Rio-Niterói. De bermuda e camiseta, empunha numa das mãos um guarda-chuvas aberto contra a garoa e na outra carrega dois grandes sacos repletos de algo que não entendi a primeira vista.
Mas, afinal, que diabos faz ela ali?
A cena inusitada trouxe-me de volta o pensamento. Imaginei um carro enguiçado, um acidente, isso, aquilo, até mesmo que ela estivesse tentando atravessar as pistas.
Quanta ignorância a minha...
Aquela mulher solitária, na chuva, em meio ao trânsito lento, simplesmente tentava, em investidas arriscadas, vender biscoitos. Era este o conteúdo dos sacos.
O pensamento voou de novo, mas desta vez, na direção de tantos brasileiros que, como aquela mulher, driblam carros, etc e tal para trabalhar e levar para casa o dinheiro honesto.
Lembrei-me de meu pai citando um contemporâneo seu que disse: “chegará o dia em que o brasileiro sentirá vergonha de ser honesto”. Particularmente discordo, e exemplos vivos como esta mulher reforçam o meu pensar. Honestidade nunca sai de moda. O povo não quer “bolsa-esmola”, mas sim, trabalho digno para viver e criar a família. Ao contrário do que muitos pensam, a “lei de Gerson”, aquela de levar vantagem em tudo, não pegou. O povo brasileiro é trabalhador e honesto.
O resto é exceção.

Maria Luiza Falcão

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