Um País a ser Descoberto
Tempos atrás eu tinha uma amigo pernanbucano bastante viajado. Engenheiro, vivera na França, inclusive. Ele costumava parar e ficar filosofando ao ver os populares que fazem performace e pregam o apocalipse na praça do Largo da Carioca.
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"Olha ai, meu rapaz. Aqui tem de tudo: profetas, saltibancos. O país está em plena Idade Média, a espera de ser descoberto. Não tem ferrovias, não tem transporte marítimo. Não tem nada. Tudo ai estar por ser feito."
E vejo que ele, do alto de sua experiência de viajante, tinha toda razão. Se não se criar cérebros pensantes e criativos para o futuro, não se terá nunca uma infra-estrutura desenvolvida. Será sempre os banheiros fechados aos cidadãos, a porta na cara, o salve-se quem puder, pois não haverá quem construa pontes humanas. Será sempre o custo de vida mais alto possível, o máximo lucro junto com o máximo desconforto e insegurança. Será sempre essa coisa melancólica e ingênua, desperdiçando tempo, espaço, capital, talentos e vida. Sim, por falta de mentes com ideias e de uma coletividade mais esclarecida, da arquitetura do transporte ao esporte e da total desorganização social vemos o que dá a "estética" da ignorância consentida.
Estava certo meu amigo. O País foi visto, demarcado, mas não necessariamente descoberto. Um país é feito de gente e inteligência. A gente já está ai. Falta investir em inteligência.
Marcelino Rodriguez