CIDADES BRASILEIRAS

Saudade de Campina Grande

Quando a gente mora longe, longe da nossa terra, não há coisa mais desencadeante de saudade do que a música. Tendo saído de Campina Grande para Natal em 1970, não podia ouvir música que falasse em Campina que não me desmanchasse todinha em lágrimas. A voz de Elba Ramalho me trazia “Bodocongó, meu Bodocongó”, Marinês me emocionava com “Quando me lembro de Campina Grande, peço notícias que você mande” e Jackson do Pandeiro cantava um dos mais puros e autênticos hinos da minha terra: “Oh, linda flor, linda morena, Campina Grande, minha Borborema...” e haja emoção.

As saudades foram tantas ao longo desses trinta e cinco anos que agora, aposentada da UFRN, encontrei um meio termo entre Natal e Campina Grande: a cidade de João Pessoa, que eu chamo carinhosamente de Parahyba, assim mesmo, com “h” e “y”. Graças a uma enorme ginástica financeira e estrepolias mirabolantes para acertar a agenda, estou morando nas duas cidades, passando metade do tempo em Natal e a outra metade na cidade das acácias.

Mas falei nessa história de música e saudade porque vi nos jornais que está havendo um concurso para escolher “a música de Campina Grande”, aquela que melhor representa a minha terra, a alma do meu povo, a face da minha gente campinagrandense, porque eu sou trezeana, e jamais me reconheceria “campinense”.

São cinco músicas propostas para a escolha e se eu pudesse, meu caro leitor, votaria em todas. Mas como só se pode votar em uma, eu quero aqui fazer campanha e declaração do meu voto, que vai para a espetacular “Saudade de Campina Grande”, de Rosil Cavalcanti, imortalizada na voz de Marinês, onde ele descreve com maestria a história da cidade, constituindo a letra dessa música por si só uma verdadeira aula de memória e tradição campinagrandense. São três estrofes relembrando um tempo idílico, da Campina dos “banhos de domingo no Bodocongó”, do “grande movimento do picado cem por cento da liberdade”, “as serenatas do Emboca e as modinhas de Bioca no seu violão”, “o pastoril de Chico Macaíba e o carnaval de Neco Belo, que não volta mais.”

Tudo isso é história, narrada com paixão, melodia e ritmo, por um dos mais expressivos poetas e compositores da minha cidade, patrono da cadeira 25 da Academia de Letras de Campina Grande, cadeira essa que depois da sua morte foi ocupada, com muita honra, por meu pai, o jornalista e poeta Nilo Tavares. Voto na música de Rosil e fico aqui torcendo pela vitória.

Clotilde Tavares

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