"Você não conhece o Brasil?" "Por que só escreve sobre suas viagens ao exterior?" Perguntas iguais ou semelhantes a essas costumam ser endereçadas à minha caixa postal. Conheço sim, o Brasil inteiro. Ou quase! (já notaram como adoro este advérbio? É que ele é oniservente em casos como este). Visitei mais de meia dúzia de vezes a Amazônia incluindo todos os estados da Região Norte, todas as capitais nordestinas e as principais cidades das Regiões Sul e Sudeste. Infelizmente ainda não fui ao Pantanal e a nenhum outro lugar do Centro-Oeste, excetuando o Distrito Federal. Vi maravilhas da natureza como nunca vi igual em terras estrangeiras. Somente a Amazônia já superaria em beleza, esplendor e magia tudo o quanto há de deslumbrante para se ver no Velho Continente, com Alpes, fiordes noruegueses e tudo mais incluídos. "Então por que não fala sobre isto?" Porque o esplendor da natureza é tão óbvio, tão onipresente, tão "natural" que ouso confessar não exercer o mesmo fascínio sobre mim quanto as obras de arte criadas pelos humanos. Já disse aqui que nas duas ocasiões em que estive na Capela Sistina, fiquei impregnado por dois sentimentos contraditórios: Orgulho e Desconfiança. Orgulho, por imaginar que tamanha maravilha haja sido concebida por alguém semelhante a mim. Desconfiança, por duvidar seriamente disto. Por outras palavras, não fiquei plenamente convencido de que o criador daquilo tenha pertencido, de fato, à espécie humana! Obviamente haverá quem discorde deste ponto de vista e então só resta citar a frase feita: "Questão de gosto...bonito lhe parece!!!" ou aquela outra: "Quem ama o feio...ouve o que não quer!!!" Mas hoje me deu na telha falar sobre "A Coisa Mais Espetacular Que Vi no Brasil". "A Coisa" situa-se no extremo oeste do Paraná, aparece na foz do rio Iguaçu e faz fronteira com a Argentina. Aliás, não é uma coisa, são coisas. A vários quilômetros de distância já é possível perceber, pelo sentido da audição, que se está próximo de algo colossal. O ruído lembra efeitos sonoros de películas famosas tipo "Titanic", "Inferno Na Torre" ou "Terremoto", com a diferença de que aquilo é um efeito especial da natureza. Trata-se de um som tão inusitado que chega a transmitir uma mistura de emoções que vão do temor ao fascínio. Tenho para mim que se algum dia os oceanos encobrirem subitamente as cidades litorâneas, como vaticinam alguns cientistas, será aquele som que os seus habitantes perceberão em primeiro lugar. Fiquei hospedado num conjunto hoteleiro situado a cerca de mil metros da "coisa". Trata-se de um hotel cinco estrelas e fica localizado dentro de um parque ecológico, onde se cuida da preservação da fauna e da flora da região. Como chegara à noite, não pude ir ver "a coisa" de imediato. Passei a noite em claro ouvindo o ruído dela e tentando apressar os ponteiros do relógio para que amanhecesse rapidamente. Mal conseguindo engolir o café da manhã, segui através de um caminho orlado de vegetação tropical luxuriante. Após uma caminhada de mais ou menos vinte minutos estaquei estarrecido! O rio vem vindo serenamente e, de repente, se lança de uma altitude média de sessenta e cinco metros, em aproximadamente 275 diferentes posições. Há uma destas com noventa metros, chamam-na "Garganta do Diabo" e só fui entender o porquê deste nome quando a sobrevoei de helicóptero. Não haveria outra denominação mais coerente! Vista do alto, a queda d’água lembra, com efeito, uma gigantesca faringe inimaginável em qualquer animal deste planeta. Sob todos os ângulos o espetáculo é deslumbrante. Ao atravessar uma longa passarela fica-se a poucos metros de uma das quedas – exatamente a mais alta – e quem não estiver protegido sairá dali encharcado, pois os respingos são como os de uma chuva torrencial. Gosto de construir metáforas acerca dos espetáculos que me fascinam, mas confesso que a minha imaginação foi insuficiente a fim de comparar aquilo como algo que já haveria eventualmente avistado neste planeta. Há também mirantes de onde se pode ter uma perspectiva de parte do conjunto ou dele todo, tanto do lado brasileiro quanto da margem argentina. As Cataratas do Iguaçu foram vistas pela primeira vez, por uma pessoa "civilizada", a 31 de Janeiro de 1542. Trata-se do navegador espanhol Álvar Nuñez Cabeza de Vaca. Diz a lenda que ao avistá-la teria bradado: "Santa Maria, quanta beleza!" O epíteto "cabeça de vaca" seria uma alusão ao rio de mesmo nome por onde ele teria se safado. Os historiadores dizem que foi ele o "descobridor" daquela maravilha. Resta saber o que pensam disto os nossos aborígenes
Raymundo Silveira