Inhotim, um dia no paraíso
Quando a bruma costumeira da região deu lugar ao sol radioso, ainda pela manhã, foi possível ver e sentir na plenitude o que representa Inhotim(MG) como espaço de arte contemporânea ou pós-contemporânea. É um verdadeiro e completo deslumbramento.
Ao encontrar o seu criador, empresário e colecionador Bernardo Paz, fiz-lhe a pergunta inevitável:
– O que o levou a essa aparente e custosa loucura?
– Amor ao Brasil, foi a sua resposta imediata.
O que representa Inhotim, hoje o maior museu a céu aberto do mundo? Funciona desde 2006, com 600 funcionários que recebem de forma gentil e competente cerca de 2 mil visitantes diários. Segundo o seu inquieto fundador, trata-se de um agente propulsor do desenvolvimento humano sustentável, trabalhando, e muito, pela comunidade do seu entorno, na região metropolitana da capital mineira.
A pergunta é inevitável: de onde vem esse nome? Alguma inspiração indígena? A resposta de Antônio Grassi, diretor-executivo do empreendimento, começa com um largo sorriso: “Não é nada disso. Aqui era uma fazenda, que pertencia a um milionário inglês de prenome Timothy. O povo o chamava de “Senhor Timothy”, depois “Sinhô Timothy”, depois “Inhotim”, nome que acabou por consagrar a bela região de clima favorável aos experimentos ambientais.
Bernardo Paz sonhou com o seu grande projeto de arte contemporânea que ganhou força quando se juntou ao paisagista Roberto Burle-Marx. Incríveis esculturas passaram a conviver em esplendorosas galerias com um autêntico e reconhecido Jardim Botânico, com formidáveis espécies da flora brasileira. Fez-se a mistura que deu vida a esse conjunto de arte e meio ambiente, como dificilmente pode existir outro no mundo.
O passeio no parque de 140 hectares é um permanente encanto, impossível cumprir num só dia de visita. São 22 pavilhões e 22 obras ao ar livre, a começar pelos trabalhos do artista plástico pernambucano Tunga, seguindo-se as obras consagradas de Adriana Varejão, Cildo Meireles, Luís Zerbini, a canadense Janett Cardiff e Lygia Pape. Em meio a tantas atrações, um orquidário de primeira ordem e a presença de plantas aromáticas e medicinais. Uma aula permanente de Botânica.
Para Bernardo Paz, “é um lugar pós-contemporâneo, um lugar verdadeiramente transformador, em que cabem ainda muitas inovações que estão sendo estudadas.” Inclusive um hotel de 40 apartamentos em construção no meio da mata, para breve inauguração.
Para se ter ideia da grandiosidade do empreendimento, podemos afirmar que ele abriga cerca de 600 palmeiras diferentes, que convivem nesse Centro de Educação e Cultura, ao lado de obras artísticas de Chris Burden, Marilá Dardot, Helio Oiticica, Valeska Soares, Carroll Dunham e Doug Aitken. Este último é autor do projeto que nos permite ouvir o som da terra numa profundidade de até 200 metros . Um dia vivido, sem dúvida, no paraíso.
Arnaldo Niskier