Chuva Branca
Ponta Grossa faz aniversário nesta quarta feira, dia 15 de setembro. 181 anos de existência. Moro aqui desde 2001. Cidade pequena, embora bem servida. O povo é meio seco, calado, ressabiado. Pior que mineiro. Mineiro ao menos disfarça: convida pro café, serve bolo de fubá, te recebe na simplicidade do bordado da família, do tricô na varanda, do gerânio ao sol, do avental com beira de sinhaninha. Aqui o povo é mais desconfiado, demora mais a abrir a porta da cidade. Da casa, então, o que dirá? Café? Coisa de amizade íntima. Aqui café bom é o colonial, servido em grandes confeitarias à tarde.
Mas a chuva, aqui, é bonita. Vê -se os Verdes Campos Gerais radiantes de alegria. Parece até que sorriem, ao sentir a chuva lhes acariciar os horizontes campestres de suaves contornos. Mas essa noite, pela primeira vez, vi chuva branca. Meu jardim ficou lindo! A chuva cantou nas telhas, nas ruas, nos gramados, nas paredes, no chão, nos carros, na alma da cidade enfeitada, como se fora chuva de tufos de neve. As árvores aplaudiram e deixaram que suas folhas forrassem o solo, misturando-se às alvas pedrinhas. Amanhã teremos um longo trabalho pela frente, mas valeu pelo espetáculo de cores e sons. Jamais eu pensaria em decorar o chão por onde ando misturando folhas, grama, gelo e frutas. As ameixas amarelinhas são destaque, os abacates são relevo, as folhas parecem bocas, as pequenas pedrinhas parecem dentes em sorrisos de felicidade. O volume denso dessa chuva inusitada não machucou ninguém: ao contrário, deu passagem e fez pose pra fotografia. Ponta Grossa faz aniversário e a natureza demonstrou seu amor pela cidade: mandou gotas de amor e paz, néctar pra natureza, alimentou a alma dos habitantes. Uma orquestra celeste cantou uma sinfonia de amor, no prenúncio da festa. E eu chorei de felicidade.
Thaty Marcondes
14/09/04