CIDADES BRASILEIRAS

Noite na Lapa

            Já era madrugada e a única coisa boa que me aconteceu foi você. Choveu a noite toda, mas você e eu nos respingos da noite sorvíamos o tempo ao som de um rock'n'roll barato pra aquecer a friasca que anunciava um dia ruim. Foi assim pra mim a Lapa.
            Lá onde pousava de tudo um tanto. Artistas e tantos outros, músicos e mais, mulheres e não-mulheres, homens e nem-tão-homens. Uns que já sabiam, outros se descobrindo e outros nem aí. Alguns só passavam por lá, outros já viviam por lá. E assim foi a Lapa pra mim.
           Tinha gente que vendia, que dava, comprava e gente que não sabia. Alguém que pagou por menos e levou demais. Um outro ali levou sem saber e olhe que nem pediu. Também tinha som de todos os tipos e todos os lados. Bons e ruins! Pra ouvir e pra distrair. E bem no meio disso tudo: vozes. Todas possíveis qualidades e texturas juntas vociferavam atravessando, percorrendo a Lapa e fofocando as vidas alheias, delatando e seduzindo e o que mais quiser sem medo de ser feliz.
           Mas nada nos atrapalhava, eu e você, ali na madrugada de sábado pra domingo curtindo numa boa a chuva na Lapa ouvindo um Rock-hip-pop-drum'n'jazz-bossa-pagodiabo-a-quatro e quem-sabe-mais-o-quê. E era isso a Lapa pra mim.

        Marco Faria

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