CIDADES BRASILEIRAS


A HISTÓRIA DO TEATRO EM SANTANA DO IPANEMA-AL
OU TEATRO-FEIJÃO-COM-ARROZ


                       O teatro não-profissional de minha cidade tem o sabor de feijoada

Uma peça de teatro tem o poder de convencimento superior a todos os livros de uma biblioteca. A história do teatro em Santana do Ipanema-AL tem sua origem desde a chegada dos irmãos Martins Vieira, mesmo sangue do Padre Vieira. Quando, à luz do fogo, contavam causos uns aos outros, e interpretavam os berros das feras sertanejas. Padre Francisco Correia também era afeito ao teatro; conta-se que suas homilias eram ilustradas com cenas teatrais.
Todo o século XX foi marcado pelo teatro em Santana do Ipanema. A juventude sempre esteve presente nos mais notórios espetáculos teatrais. Os teatrólogos vinham da Escola de Arte Dramática do Recife-PE. Depois, havia os teatros circenses. O circo era um acontecimento comum em Santana do Ipanema no qual se apresentavam os artistas e, ao final das apresentações, interpretava-se um drama.
Nomes de santanenses famosos que fizeram teatro estão no rol Albertina Nepomuceno Agra, Alberto Agra, Aderval Tenório, Cledrisvaldo B. Chagas, Iluminata Farias Ricardo (pastoril), Marcello Ricardo Almeida, Adilson Santos (teatro sacro; aliás, este iniciara seu aprendizado teatral no GTShalom), além de outros tantos artistas santanenses.
Como se iniciara a organização do teatro não-profissional santanense no século XX? O Grupo Escolar Padre Francisco Correia fazia com que viessem teatrólogos para ensinar às crianças. Na década de oitenta, século passado, um grupo de jovens, na igreja matriz, criaram o Grupo Teatral Shalom ou Teatro-Feijão-Com-Arroz. O número de atores chegara a 50 integrantes e as apresentações ficavam em cartaz por meses. Coisa rara até mesmo aos grupos profissionais.
O GT Shalom ou Grupo de Teatro-Feijão-Com-Arroz, com todas as suas peças teatrais de autoria própria, descobrira o talento de como melhor difundir o teatro. Iniciara sua trajetória com a peça O PÃO, no Teatro Sagrada Família. Após esta peça vieram A FILA DO INPS; MARIA BALA (publicada no livro cujo título "Não", de Marcello Ricardo Almeida); O REFLEXO NO ESPELHO; DEBAIXO DA PONTE; UM PASSEIO AO LUGAR-DO-NÃO-SEI-ONDE; MORCEGOS HUMANOS; CASA DE FANTASMAS; O CASAMENTO CAIPIRA; PARENTE É CARNE NOS DENTES.
O Secretário Estadual de Cultura, Noaldo Dantas, tinha muito admiração pelo trabalho do GT Shalom/Grupo Teatro-Feijão-Com-Arroz e resolvera investir na capacidade do grupo, encaminhando-o à realização de cursos na capital e também em vários outros Estados.
Liderava este grupo de teatro o jornalista Marcello Ricardo Almeida. Um dos estudos no qual recebera convite para participar acontecera nos casarios coloniais da capital da Parayba, João Pessoa. Um mês em João Pessoa para estudar teatro; desta vez, com os professores e dramaturgos de São Paulo, Fauzi Arap e José Eduardo Vendraminni e, do Rio de Janeiro, João das Neves.
Aos que amam o teatro, o papel do método Teatro-Feijão-Com-Arroz aborda temas sociais em peças que receberam o sugestivo nome feijão-com-arroz, porque é um teatro que alimenta além de ter o sabor de uma feijoada. Não é por acaso que Santana do Ipanema é a Capital do Feijão.
As escolas deveriam pesquisar mais sobre o Teatro-Feijão-Com-Arroz que nascera em Santana do Ipanema-AL. Uma escola que investe nas apresentações teatrais ganha o aluno, ganha a família, ganha a escola, ganha a cidade, ganha o país. É o que mais facilmente atrai o interesse, porque é um tema vivo e dinâmico.
Uma peça de teatro tem o poder de convencimento superior a todos os livros de uma biblioteca, como frisei, desde a época dos antigos gregos. Quando uma peça, no método Teatro-Feijão-Com-Arroz, que se sustenta no texto, é encenada ao público transmite mensagem de caráter filosófico (ou religioso) e age sobre as pessoas fazendo-as modificar seu modo de ver as coisas ou até mesmo seu comportamento em relação ao mundo.

Maria do Socorro Ricardo

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