CIDADES BRASILEIRAS
A SÃO PAULO DO POVO

Minha carteira de habilitação venceu em 12/03/2004 e desde então venho me planejando para renova-la. A princípio pensei em ir a um despachante, mas fui incentivada pelo meu marido e pelo meu pai a ir no “ Poupa Tempo”.

Para quem  não sabe “Poupa Tempo” é um modelo implantado em São Paulo que reúne em um único local a prestação de vários serviços públicos à população, à exemplo de:licenciamentos, carteira de trabalho, carteira de identidade, seguro desemprego, habilitação, etc...

Meio ao contragosto, lá fui eu – de ônibus e metro, é claro, porque não sou louca de ir dirigindo até o Centro de São Paulo e num lugar que nem sei exatamente aonde fica.

Desci no Metro Sé, onde se cruzam diversas linhas e por tanto uma das estações de maior movimento. Fui seguindo a sinalização até chegar a rua, onde uma multidão gritava e falava oferecendo seus serviços: Vai tirar foto? Quer fazer exame médico? Venha, aqui é mais barato. Nosso trabalho é mais rápido...

Enfim, cheguei ao portão do Poupa Tempo, me informei com o guarda e fui indo em direção a Sala Azul, conforme fui orientada. Tirei foto, fiz o exame de vista, tudo muito rápido e fui informada que a partir das 16:30  horas minha nova carteira de habilitação estaria liberada. Olhei no relógio e os ponteiros marcavam 14 horas. Resolvi então explorar  o lugar onde eu estava, para aproveitar melhor o tempo. Comecei a circular e observei um quiosque com a placa “Biblioteca” e outro com a placa “Giblioteca”.  Parei e comecei a conversar com o pessoal do quiosque.

Achei muito interessante. A idéia é emprestar livros para as pessoas que estão aguardando o resultado de algum serviço, como era o meu caso, por exemplo. Assim, as pessoas se distraem, lendo, enquanto esperam. Os livros, revistas e gibis, não podem ser levados para casa, de forma que devem ser devolvidos quando as pessoas deixam o recinto.

Vi também várias gravuras retratando São Paulo, algumas feitas a lápis, eram obras de diversos artistas. Havia panfletos sobre os diversos eventos culturais – a preços irrisórios, alguns grátis – planejados para o mês de Abril.  Alguns eventos tinham o incentivo do Governo Estadual e outros da Prefeitura.

Ainda tinha tempo para caminhar mais um pouco, por isso, resolvi ir até a Catedral da Sé – desde que foi reformada, nunca mais tinha ido lá. Situada em pleno marco zero da Capital, dispõe de 8.000 lugares. Totalmente reformada, está de fato muito bonita. Subi as escadarias, entrei, analisei cada detalhe. Ao sair, do alto das escadas, tem se uma visão, no mínimo, paradoxal da Cidade. Uma praça muito bonita, com fontes, pombos e muita gente, de todos os tipos. Desci as escadas e fui circulando pela praça.

Parei numa rodinha – havia muitas delas – e um rapaz, com sotaque nordestino, fazia suas mágicas, brincando com o povo que o cercava e no final ia arrecadando dinheiro. Fui para outra roda, nessa o rapaz, também de sotaque nordestino, desafiava as pessoas jogando algo – não deu para ver direito o que era – e perguntava em que mão estava. As pessoas apostavam e sempre erravam. Arrecadava mais uns trocados. E assim o povo ia passando o tempo, grande parte, me pareceu ser de desempregados.
Muita gente pedindo esmola também, expondo suas mazelas. Voltei para o Poupa Tempo.

Às 16:20, dez minutos antes do combinado, fui ver se minha carteira de habilitação já estava pronta. Estava e me foi imediatamente entregue. Fiquei até admirada, nunca vi tanta eficiência de um órgão público.

Voltei para o Metro e já na estação, fui olhando as inúmeras lojinhas que existem por lá. Comprei algumas bugigangas de pendurar no pescoço e no braço (pulseirinhas) que achei serem de muito bom gosto e bonitas. Continuei e novamente parei diante de painéis que contavam por meio de fotografias a história do desenvolvimento da Avenida Paulista – a mais paulista das avenidas – desde o final do século passado.

Caminho mais um pouco e vejo uma exposição com fotografias retratando o cotidiano de alguns bairros de São Paulo. Eram varais de roupas, mercearias, prédios, etc...

Esqueci do tempo e quando fui embarcar para voltar já eram quase 18 horas. Resultado, vagões super lotados. Entrei e fiquei  num cantinho , bem perto da porta, pois tenho medo de me sentir mal ou com falta de ar em meio a tanta gente.

Desembarquei em Santana – comprei uns coquinhos, desses passados no açúcar, uma delícia e ótimos para engordar – e voltei de ônibus. Sentei no primeiro banco e logo na minha frente – atrás do motorista – um jornalzinho anunciando um concurso de poesias, incentivando as mulheres a enviarem seus escritos. A iniciativa era da Secretária de Cultura do Estado de São Paulo.

Pois é... eu apenas queria renovar a minha carteira de motorista e acabei conhecendo um pouco mais da minha Cidade e melhor ainda, tive excelentes impressões sobre as ações do governo para incentivar a Cultura. Gostei do que vi, estamos caminhando... afinal se nem tudo são flores, também não podemos afirmar que são lágrimas apenas.

Rosiris Guerra Inglese

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