Pequena crônica sobre São Paulo
Sentada à beira de uma vitrine fechada, uma mulher com uma touca de banho na cabeça, encaixa umas pilhas no seu pequeno rádio.
Ao lado dentro de uma loja entra veloz uma mulher jovem, poisa um papel, este é o meu currículo, tem vagas? Preciso trabalhar urgente, como é que se chama a loja? Volto depois.
Leiteiras? temos, veja aqui estas, mas estes são bules, têm até os furinhos para as folhas do chá não passarem, é a mesma coisa todos levam líquidos e vão á mesa. Tudo aqui é feito na China, é isso mesmo, fica mais barato, nem tudo, aquele ali tem design do Canadá mas é feito na China, é mais caro mas tem garantia de 25 anos, alguma loja destas dura 25 anos? Ah isso eu não sei, posso perguntar à dona.
Os lápis pretos acabaram, é o número nove, faz tempo que não vem o nove, sim o nove é número dos lápis de cor preta.
Pela rua augusta senti uma saudade intensa de uma voz a cantar, um canto em eco a clamar em mim.
E nesta São Paulo que se agita desconhecida em afazeres, labutas de sentidos, de desejos, num dia a dia que nunca se refaz, sempre recomeça.
Aprender sobre este cansaço de eternamente recomeçar é viver nesta cidade.
Constança Lucas
Fevereiro de 2008
Enviado por Lau Siqueira