Carta

... Hoje sentada à frente do computador ouvindo Mahler, ou melhor, ouvindo compulsivamente e exaustivamente o Quarto Movimento – Adagietto: Sehr Langsam....Very Slowly – lembrando da revelação de quem você é me sinto atônita com o que pode ser o significado indecifrável da vida...que claro continuará oculto.....,

Procurei seus quadros pela internet e encontrei muitos deles.....a cada encontro de uma forma, uma composição, um traço, uma escolha de quebra da forma meus olhos se emocionaram...como sempre acontece desde que vi seu primeiro quadro e fui buscar saber de quem era – um cartão postal de 82 que guardo até hoje...sem coragem de enviar... MEU.

Cada site que encontrei não li nada sobre você ou sobre a visão inteligente dos conhecedores da arte.

O que me interessa em você é a emoção, a ponte com o algo maior é o Quarto Movimento de Mahler......é o aquietar o coração cheio de sentimentos e perguntas frente a algo extraordinário que me responde sem palavras todas as desesperadas procuras....as lágrimas são de êxtase e o suspiro de encontro....a calma de uma completude.

Que vida é essa que me presenteia com esta pessoa que me eleva, que me ilumina sem ter a menor idéia da minha existência?

Que vida é essa...........Lembrei-me agora do Poeta que fala:

“ Não sei sentir, não sei ser humano,
não sei conviver de dentro da alma triste, com os homens,
meus irmãos na terra.
Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático, cotidiano, nítido.
Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo.
Mas tudo sobrou ou foi pouco, não sei qual, e eu sofri.
Eu vivi todas as emoções, todos pensamentos, todos os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda gente.
Mas para toda gente isso foi normal e instintivo.
Pra mim sempre foi à exceção, o choque, a válvula, o espasmo.
Não sei se a vida é pouco ou demais pra mim.
Não sei se sinto demais ou de menos.
Seja como for a vida, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar pulos, de ficar no chão,
De sair para fora de todas das casas,
De todas as lógicas, de todas as sacadas
E ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos.”

Depois disso........tanto a falar e silenciar.....mas o tempo há de continuar sua brincadeira do nosso encontro, que em nada me parece casual, e aí.......o futuro.

Rita Santilli

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