Carta para um amigo de infância
Meu caro amigo,
Hoje é sábado... Sábado apenas isso. Também não é nenhuma data especial no calendário. Nem é o seu aniversário ou o meu. Apenas um dia da semana como os outros... Por ironia do destino lá fora o dia está acinzentado, tal como eu me sinto por dentro. Foi então que um vento passou aqui pela janela e fez-me lembrar de você. Acredito que foi o perfume solto no ar, um aroma agradável, saudável , inocente mesmo.
Ah! O tempo. Como as horas são impiedosas. Não esperam... Passam. Quando se vê já foi o dia, o mês, o ano e o outro ano.
Estranho lhe dizer essas coisas, mas lembrei-me de você, talvez pela música que tocou no rádio. Tínhamos gostos parecidos.
Hoje é sábado de uma semana qualquer de um mês do ano, e isso é o que importa.
O agora, o hoje, o presente. O passado já passou e o futuro é uma incógnita. Hoje estou aqui para dizer tanta coisa, mas as palavras insistem em fugir e me escapa como areia fina entre os dedos.
Meu adorado amigo,
O mundo tem mudado muito e algumas coisas me assustam, talvez por isto esteja lembrando-me de você: a palavra certa, na hora certa, no momento certo.
Eu quero te dizer que... Bom... Você é uma luz, quanto a isso eu não tenho dúvidas. O nosso encontro será sempre um grande encontro. Seu nome, como suas imagens já estão gravadas em meu coração... Isso o tempo não transforma, nem apaga. Nada nem ninguém podem mudar.
Um beija flor aparece aqui na janela do quarto só para lembrar que um dia conversamos sobre os sonhos. E é verdade. Eu te revelei os meus sonhos e você me contou os seus. Sonhos que se sonham juntos têm mais força. E acredito nisso, sou um sonhador como você costumava dizer. Eu aceito, eu confesso... Sou um sonhador.
Por incrível que pareça hoje é sábado e estou lembrando-me de você. Como todos os dias. É menino... Vejo você correndo pelo campo solto, livre como um pássaro, alegre como uma cotovia. Sinto cheiro de biscoito de polvilho quente preparados por Maria Lucinha , sinto o perfume do café que vem da cozinha da fazenda do vovô Tão. São lembranças e passado... Pena você não está mais aqui.
Hoje é sábado... Escrevo só para te dizer que você faz falta, mas se eu fechar os olhos eu posso vê-lo, eu posso senti-lo, posso tocá-lo. Eu sei que eu posso. Quem sabe um dia a gente se encontra? ... Quem vai saber?
Seu velho e único amigo...
O tempo
Francisco Malta