CARTA À AMIGA
Verdade, Tany, que ainda que o domingo estivesse nublado, ameçando cair chuva sobre a minha solidão civil, eu gostaria de estar contigo talvez, falando coisas sobre a maneira como as gaivotas pousam de leve na superfície das ondas do mar...
Como andam, aliás, suas esperanças?
Aqui eu tenho trabalhado com as duas mãos para manter-me, impávido, dispondo somente de um rádio relógio que conta meus dias, a cama para dormir e as vozes que chegam-me do deserto dos computadores, entre as quais a sua, amiga.
Te contei que Mariana Brazil mandou-me seu excelente livro "Entre Fronteiras", que fala do sofrimento e da luta de meninas latino-americanas no mundo da prostituição, da ItÁlia? Ou que tem sido boa para mim a amizade do autor do blog cosmopolita? E que a viúva do Taiguara, escritora e índia, mandou-me um cheiro da mata? Que fiquei alheio a política, porque acredito que sem educação nada é viável? Que dedicar-me ao espírito e a arte é toda crença que me resta, depois de Bagdá destruída?
Sim, amiga. Te digo que sou grato pelos poemas de Neruda que vez ou outra descubro contigo...
Não sei como passa contigo a inspiração, mas te queria falar desde ontem, essas coisa borbulhando dentro de mim! meu quarto tem sido todo meu universo solitário dentro da literatura.
A sorte são que as asas, o sangue e a mitologia, que te digo pois que Deus misturou minha vida com a dos anjos.
No mais, espero em breve tomar um café expresso numa livraria qualquer contigo para falarmos, entre outras coisas, desses nossos tempos virtuais.
Marcelino Rodriguez