CARTA DE JOAQUIM NABUCO AO EX-IMPERADOR D. PEDRO II, DANO NOTÍCIAS DO BRASIL.

Londres, 9 de fevereiro de 1891.

Senhor,

          Vossa Majestade fez-me imensa honra e causou-me indizível emoção com a sua carta. Essas são as honras que aprendi com meu pai a apreciar mais que todas. Todos os meus, por quem V.M. tão graciosamente pergunta, estão bons. Meu cunhado, o Dr. Hilário de Gouveia, anuncia-me a remessa de um volume para V.M. e pede que lhe beije respeitosamente a mão.
          Todos nós faremos votos para que o exílio de V.M. não se prolongue até o esgotamento do país, que não tarda. A linguagem dos jornais mostra que o descontentamento cresce sem parar, na razão da corrupção republicana. O Brasil, ou melhor, o Rio de Janeiro, está como a Califórnia quando se descobriu o ouro, ou a Ágrica Austral com a descoberta dos diamantes. É uma grande feira a que afluem os aventureiros do mundo inteiro para enriquecer de repente. Não me consta, porém, que se tivesse descoberto lá nem ouro, nem diamantes, mas somente papel. Assim como a Monarquia, por ser um governo hacional honesto e responsãveo, não servia para a época da especulação desenfreada que atravesssamos, assim também a República não servirá (como se está vendo no Rio da Prata) para a época da Reparação. V.M. terá visto a mudança que já teve lugar no pessoal governante, verdadeira reação contra os homens de1'5 de novembro, o começo da dissolução republicana a meu ver. Depois dos revolucionários estão agora no poder os aderentes. É possível que depois destes venham outros grupos experimenta in anima vili o seu sistema.
          O Brasil sob a República figura-se um doente grave passando das mãos da alopatia para as da homeopatia, desta para o curanderismo, deste para o espiritista - e depois: Os médicos estimariam ser todos chamados individualmente, o doente porém contenta-se com experimentar um de cada escola e assim vai mudando rapidamente de sistema e, em breve, ele terá experimentado todos. Nesse dia lhe ocorrerpa a idéia de mudar de ares, de fugir à ação do impaludismo republicano geral na América Latina e voltar à terra natal, como o filho pródigo, a respirar a atmosfera benigna de sua infância, no horizonte que o viu crescer, cercado de tudo que o prendia à vida.
          Preserve Deus, para a conclusão de tão amarga - porém ao mesmo tempo tão útil - experiência, a preciosa vida de V.M. e dos seus.
          Dê sempre V.M. as suas ordens a quem tem a honra de subscrever-se com a veneração de um verdadeiro Brasileiro, Senhor.
          Se V.M.
          O mais obediente Servo
                               Joaquim Nabuco

Do livro: Joaquim Nabuco, um Estadista - Sesquicentenário de nascimento (1849-1999), org. Herculano Gomes Mathias, Col. Afrânio Coutinho da Ac. Brasileira de Letras, RJ, 1999
Enviado por Arnaldo Niskier a Leila Míccolis

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