Meu caríssimo ex-amor
Como uma módica quantia para o sustento de uma casa, tu me davas não mais do que uma parcela minguada dos teus sentimentos.
A cada ano que passava, tu foste exigindo de mim que eu me fizesse entregue, que sustentasse nossa relação, com os parcos carinhos com que te dignavas agraciar-me. Eu sempre os aceitei ansiosamente e tu nem percebias as consideráveis somas de amor com que eu contribuía, minuto a minuto, para a nossa união.
Mas, sem saberes, eu retirava uma pequena parcela do pouco que tu me davas( porque jamais irias suspeitar que eu fosse capaz de roubar o nosso próprio cofre).
Nada esbanjei do que de ti recebi e roubei. Eu até poderia sair da tua vida, fugir ou morrer, sem nada te contar, e jamais desconfiarias de coisa alguma.
Ah! Como teu espírito é cego! Tua cegueira não permitiu perceberes que tua quantia de amor em nossas vidas não bastava para sustentar nossa relação, que precisarias contribuir no mínimo com o dobro.
Mas eu me desdobrei por nós dois.
Eu não precisaria confessar isso agora. Nunca percebeste coisa alguma na tua avareza. Mas outra mulher talvez não se saia tão bem quanto eu, e poderias vir a cobrar dela o mesmo desempenho: se eu me arranjava por que ela não? Coitada...
Entanto confesso: dos míseros bocados que tirei do que tu me deste, fiz uma poupança, aumentei meu capital. Hoje, tenho mais amor ainda do que quando a ti me entreguei e que irei aplicar em outro investimento mais seguro e rentável.
Outra vez, desculpa-me, por haver te enganado, apesar de não ter te empobrecido mais do que sempre foste, mas eu saí rica da tua vida.
Agradeço-te por isso.
Lizete Abrahão