Carta Aberta a Neuza Ladeira
Belo Horizonte, 24 de outubro de 2008
Querida amiga:
Bom dia!
Ontem, ao chegar, liguei, mas sua filhota disse que vc dormía.Devia estar cansada de tantas emoções.
Achei tudo lindo, sofri muito no trânsito, Llobus e eu, cada qual num táxi, enfrentando algo que não sabíamos o quê. Na Pedro II, parados. E ao chegar em frente ao Palácio das Artes, tantos eram os carros, que não se poderia atravessar, então o motorista deu uma volta e desceu a Afonso Pena, para deixar-me lá. Deve ter sido por causa do evento que envolvia autoridades. Mas seu público fiel também lotava os jardins. Quem perderia ouvir a Poesia forte da Pequena Flor, sobrevivente de uma Ditadura?
Pena meu atraso, pois queria estar lá, desde o início. Queria ter assistido e falado a seu respeito antres de falar Árthopros
– a coisa mais linda...
Seu cenário estava uma tela exposta, fratura a inaugurar interpretações num corpo temporal e pictórico. A nudez na cama, em contraste com a riqueza da mesa.
Adorei poder falar sobre Yeda Schmaltz – uma poeta e mulher livre, à frente de seu tempo, prolífera e bela. Alma selvagem no sentido de natural qual a sua. Obrigada pela oportunidade.
Você estava linda, vestida de claro, ao lado do esposo. Muitas pessoas vieram cumprimentar-me pela interpretação de Ártropos, mas foram as palavras rasgantes e consitentes que tornaram essa mitológica moira grega, passível de ser vista com um olhar novoo seu e reinterpretada. O resultado veio relamente de pensar-me você enquanto concebia o poema. Coisa de amigo: quis dormir, pensar, em Quarto de Dormir, Quarto de Pensar, esse livro denso e leve a um só tempo.
Parabéns por seu recital no Terças Poéticas, pela generosidade em deixar seus amigos interpretá-la, pela voz convincente da atriz Ana Gusmão, pelo grito de Brenda Mars, pela leitura sempre dramática e interessante de Wilmar Silva, o curador. Não ouvi Regina Mello nem Tânia Diniz, por causa do atraso no trênsito, mas imagino seus versos em seus delicados tons de voz. Parabéns ainda por sua Mostra, no Restaurante Cozinha de Minas. A série de quadros Primavera Ambivalente reflete um momento mágico. Para você, a primavera floresce, promete frutos e perfuma os ares da alma. E a nós todos, que a apreciamos e a amamos.
Clevane Pessoa de Araújo Lopes