Rick Stroud a Isabel Allende (*)
22 de setembro de 1995
Querida Isabel Allende
Você não me conhece. Tive um dia ruim, transformado num dia maravilhoso por você. Contrariamente ao endereço encabeçando esta folha, estou escrevendo de um estúdio de filmagem na Hungria. Dirijo uma história sobre um monge do século 12, que também é detetive.
Durante o almoço, meu operador de câmera (um homem esperto e modesto) descreveu como, dois anos antes, ele tivera que rogar por sua vida durante um tribunal primitivo no Himalaia. Essa foi a terceira vez que quase encontrou a Morte.
Porém, o que é muito mais importante, é que eu acabei de ler seu livro de tirar o fôlego, Paula. Gostaria de estar sintonizado com os espíritos como você.
Esta carta foi escrita com espírito de companheirismo. Em novembro de 1991, minha mulher bateu com a cabeça e entrou num coma do qual ajamais se recuperou realmente. Ela mal fica desperta.
Emergi de seu livro (lido no ambiente surrealista de um set de filmagem) com um profundo senso de algo melhor compreendido.
Obrigado.
Com amor,
Rick Stroud
Londres — Inglaterra
Do livro "Cartas a Paula", prólogo de Isabel Allende, trad. Elena Gaidano, Bertand Brasil, 1997, RJ
Obs.: A obra constitui-se de cartas à Isabel, pela morte de sua filha Paula, casada com Ernesto, e falecida ainda bem jovem, depois de muito sofrimento hospitalar por um ano. Isabel fez um livro de memórias diferente, através de cartas escritas a ela.