Não sei se concordo: acho que as despedidas são necessárias,
porque evocam na gente muitos sentimentos. E esconder sentimentos é
coisa de gente fraca, que os teme e prefere abafá-los, na tal sublimação.
Não é esta minha idéia. Aprendi com Nietzsche que
devemos aceitar e desenvolver aquilo que de fato somos: misérias
e belezas, mitos e logos. O medo do sentimento é coisa de quem teme
a vida e a si mesmo: o sentimento desestabiliza, incomoda, desconfia, desconstrói.
A racionalidade é sempre porto seguro, lógica tranqüila,
confiança eterna, rigidez existencial. Mas... sei que não
é este nosso caso. Não somos voluntários da anemia.
Nem da mera esquisitice ou da pura excentricidade. Somos de uma matéria
rara, essa que faz o amor tornar-se erradio e trágico, moldado no
barro significativo e belo do eterno vir-a-ser. Só assim, dizem,
a vida passa de esgotamento a abundância e a felicidade encontra
lugar como repouso, embriaguez, calmaria, superabundância e esbanjamento.
Agradeço a Deus por termos convivido e pensando bem, os momentos
difíceis que nos assolaram, certamente serviram para confirmar nossa
amizade (que veio como identificação de personalidade, de
ideais e depois, de gosto, já que nos encontramos caminhando pelas
ruas de Goiás Velho, talvez entre as tochas dos farricocos ou visitando
a casa de Cora, bebendo daquela água mágica que nasce no
porão do seu tempo). — Fico (amos) na esperança de podermos
fazer isto um dia desses! Por fim, ainda nos resta o tempo, cheio das mazelas
humanas e "indestrutivelmente poderoso e cheio de alegria", para citar
novamente o nosso filósofo favorito. E que a nossa árvore
do tempo finque suas raízes sempre nos melhores terrenos; suas folhas
balancem ao frêmito das ventanias e seus frutos mais saborosos despenquem-se
como
excessos de bondade. E neste terreno (uma terra livre, verdadeiramente!)
floreçamos e embelezemos as paisagens mais embrutecidas. Você
pode fazê-lo, saiba. Um grande beijo,
seu sempre amigo,
Curitiba — Pr, 25 de junho de 1999.