"POETICIDADES E OUTRAS FALAS ", POR RUBENS DA CUNHA

Reside em Joinville, SC. Autor de "Campo Avesso" e "Visitações do Humano". Acadêmico de Letras.
Escreve semanalmente no Jornal A Notícia e coordena o Grupo de Poetas Zaragata.

Coluna de 23/08
(próxima coluna: 09/09)

A IMAGINAÇÃO: LAGO QUE LEVAMOS

Toda pessoa seria mais límpida se se banhasse nos encantamentos da imaginação. Este rio que carregamos dentro do cérebro. Rio não: lago. São uns açudes represados querendo escorrer por todo o corpo e a vida não deixando, o tempo não deixando, e tudo ficando seco: os olhos, as mãos, os pés, a boca seca, pedindo as águas da imaginação e as pessoas corridas, atormentadas, dinheiro, pressa, rotina, não abrem nunca as comportas, não se regam, não se umedecem de sonho. Levam a vida em aridez. Dentro da cabeça um lago, por sobre a pele as rachaduras: expressões de um corpo feito de ausência da liquidez poética. Um corpo feito de vazios.     PALAVRAS   Palavras: jeito de calar, jato de fúria. Enrodilhar macio, rio e árvore – palárvore verbo de pássaro. Cantatas infiéis, duas crenças, dezcrenças, segredo de folhas: palimpsesto. Sextas e sábados, modo sagrado de ser.   Pailavra terra e pedra - Pailivra-me de todos males - Pailouva-me vértice de caos Pailava-me sujeira e alma - Agora e na hora do poema.    

 

PALAVRAS
Palavras: jeito de calar, jato de fúria. Enrodilhar macio, rio e árvore – palárvore verbo de pássaro. Cantatas infiéis, duas crenças, dezcrenças, segredo de folhas: palimpsesto. Sextas e sábados, modo sagrado de ser.   Pailavra terra e pedra - Pailivra-me de todos males - Pailouva-me vértice de caos Pailava-me sujeira e alma - Agora e na hora do poema.

 

POR QUÊ ESCREVO?

Escrevo para que o caçador em mim
tenha mais cabeças
de rinocerontes pelas paredes.

Escrevo por prazer, meu
e das letras deleitosas
sobre o papel.

Escrevo para que o sangue
corra seus abismos,
como se fosse águia.

Escrevo pela águia
que escreve poemas
melhores que os meus
quando voa.

Escrevo para:
dizer,
redizer,
desdizer:
rezar os verões que tanto gosto.

Escrevo para que a alma retorne ao corpo.

Escrevo porque aprendi
a mentir desde cedo.

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