"POETICIDADES E OUTRAS FALAS ", POR RUBENS DA CUNHA

Reside em Joinville, SC. Autor de "Campo Avesso" e "Visitações do Humano". Acadêmico de Letras. Escreve semanalmente no Jornal A Notícia e coordena o Grupo de Poetas Zaragata.

Coluna de 09/09
(próxima coluna: 23/09)

A língua: que falo!

                “O que quer o que pode esta língua?”
               Caetano Veloso

Quer pólvora, ponte, quimera. Mera ponta da Europa. Esta língua pode: abrasileirar-se, africanizar-se, aziar-se: Macau é aqui na esquina. Angola do outro lado da rua, aonde nois fumo, nois vai, nois vorta no vórtice da palavra, no vértice latino dos analfabetos:

— Seu nome? por favor:

— Aurélio, mas não sei ler nem escrever, meu senhor. Falar eu sei. Olha minha língua: diz tudo que preciso saber.

— Ok my friend? o importante é o speak up!

Esta língua quer viver na boca diária dos seus falantes. Quer ser mastigada com plurais e conjugações, temperada com orações subordinadas ao tempo. Esta língua pode ser/estar aonde nenhuma outra vai. Vaca de presépio. arcaica no “vós temeis, vos sabeis, vós amais”. Vós não falais nem escreveis mais assim. Agora a voz é outra, menor. rápida, e na tela do computador surge uma escrita mutante: “de onde vc tc?”, “daora vc quer tc aqui?” “uia...eu tb toko guitarra”.

Falo e digo o que a língua lambe, mais que na escrita, é no vento que ela poetiza-se puta de esquina, freira de claustro, mulher amarga e doce, barroca lavadeira esfregando-se mundo afora. A língua agüenta. O que não agüenta é o ouvido.

Let´s go My dear! Vamos ver como é bonita a linguagem dos índios afrotugueses que habitam aquele país ali embaixo.

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