Coluna de 23/08
(próxima coluna: 09/09)
O Email nosso de cada dia
Hermes Moderno. O e-mail ou correio eletrônico, como preferem os puristas, é uma ferramenta de comunicação insuperável neste começo de milênio. Rápido, eficaz, e potencialmente perigoso. Muito mais do que o perigo dos vírus, das correntes e das mensagens inúteis, o e-mail é um carrasco para os impulsivos. É o tipo da coisa que não permite arrependimentos. Um email com uma mensagen dita de forma equivocada é um homem-bomba. Depois que decide matar e morrer, é impossível evitar. Não há ferramenta pior para resolver desentendimentos pessoais.
No tempo em que as cartas tradicionais predominavam, escrevia-se, envelopava-se, ia-se até o correio, e se ainda assim a carta fosse encaminhada, depois ainda havia a possibilidade de raptar o carteiro, ou fazer plantão na frente da caixa de correspondência do destinatário, enfim, tinha como evitar uma tragédia.
Com o email, não. A sua proximidade com a fala, tanto nas incoerências gramaticais, quanto na rapidez, é um forte gerador de conflitos. Sujeito senta-se na frente do computador, com muita raiva e escreve tudo o que sente. Leva o mouse até o 'enviar mensagem' e manda. Depois, como quase todo impulsivo, ainda faz um movimento com as mãos na tentativa de segurar a besteira dita. Tarde demais. O mal tá feito, o jeito é partir para as desculpas e promessas de que nunca mais acontecerá. Estas atitudes típicas de quem faz algo sem pensar.
A escritora Helena Bandeira, companheira de internet, recomenda sempre o uso do rascunho, uma espécie de depósito salva-vidas: escreve-se tudo o que tem vontade, salva-se no rascunho, sai passear, ver as andorinhas, as flores primaveris, o céu azul, perceber que a vida é cheia de clichês, que a felicidade está neles, é é muito fácil estragá-los com palavras agressivas. Depois de toda esta reflexão paulo coelhinha, volta-se ao computador, lê a mensagem novamente e se todo o escrito ainda vale, é porque tem que ser dito mesmo, então é só mandar. Que nem tudo são amenidades nesta vida de meu Deus.