Coluna de 23/11
(próxima coluna: 9/12)
A vida num parque de diversões
Observo o carrocéu e percebo que eu nunca montei naqueles cavalinhos. Pareciam-me circulares demais, o máximo de movimento é um sobe e desce inócuo. É lúdico mas pouco convincente.
A vida sempre me soou como algo mais chapéu-mexicano, circular também, mas provocador de emoções extremas: alegria e vômito. Tonteira e felicidade.
Mais adiante o barco pirata: pêndulo das emoções: alto e baixo, queda e subida, tudo no mesmo lugar, mas tudo movimentado ao extremo. Num determinado momento, quando o sujeito está de cabeça para baixo, um segundo de estabilidade, mas logo despenca novamente. Parece muito o amor.
Depois o Carrinho-de-choque, lugar em que os conflitos são causadores de risos e não de lágrimas. A vida é mais embaixo, mas deveria ser como um carrinho de choque, sem direção, sem medo de encostar no outro.
A roda-gigante, também circular, amada pelos amados, fornece novas visões. Não é feita pra solitários. É preciso companhia nas rodas-gigantes da vida.
O trem-fantasma com seus falsos escuros provocadores de medo. Dentro de mim, muitos escuros causam-me gritos. Sei que são mentirosos como os bonecos automáticos e as vozes gravadas do trem-fantasma. Mas tenho cinco anos. Acredito fácil nas coisas.
A montanha-russa com seus gritos coletivos, metáfora clichê para a vida. Metáfora ideal para a vida.
Na sala de espelhos, meus outros corpos. Diferentes e iguais a este corpo que me foi dado. Na sala de espelho, por instantes sou o que jamais serei. A liberdade deste visão é penosa e triste.
Macã-do-amor, pipoca, refrigerante, um riso na cara, um febre nos olhos. Dentro a saudade da infância. Fora, a perspectiva de que a vida pode ser mais simples e circular, como quase todos os brinquedos do parque de diversões.