VOLTO PARA CASA

Depois de tantos dias fora, voltar para casa me faz bem. Juro que quando chegar no Brasil vou a uma churrascaria rodízio. A brasileira melhor culinaria do mundo. Em qualquer botequim, em qualquer bar sujo de Copacabana se come melhor do que NY. Talvez eu não tenha ido aos lugares certos, aqueles dos turistas ricos. Sou péssimo turista. Sinto falta do colesterol de nossos quitutes, de nossas feijoadas, rabadas, chega de comida chinesa, de amburgueres e de asceticas saladas caloria zero (sabor zero), viva o toucinho defumado, o torresmo, o refogado. Viva a caipirinha. Mas a policia americana gosta de brasileiro por aqui, me parece, nao me revistam no aeroporto. Devem lembrar-se de seus idolos, o Romario, o Ronaldo, o Rivaldo. Um amigo me pergunta se conheco algum jogador, de perto. O unico famoso que conheci foi o Zico, que ja era merecidamente famoso. Quase foi meu aluno em faculdade particular. Ele estudava Educacao Fisica; eu lecionava Comunicacao na mesma instituicao. Um dia vinhamos nos, eu e Jorge Lucio, pelo corredor, quando o encontramos. Pareceu-me franzino, magrinho, fragil demais para ser heroi. Depois disso ganhou peso, como que cresceu, aumentou a massa muscular. Nunca mais o vi. Nem o Jorge Lucio, amigo da area de educacao. Onde andara? Foi locutor da Radio Nacional, nos bons tempos da radio. Tinha a voz grave, a diccao perfeita, o timbre cristalino. Geralmente perco meus amigos. Separamo-nos. Talvez seja defeito meu, não os procuro. Tudo passa. Não telefono. Quando reaparecem, quase nada temos em comum. Eu mudei depressa, o outro tambem. Zico vejo ate hoje na TV. Sim esta na hora de voltar. Assaltam-me vozes, cantam antigas marchinhas de carnaval. “Quem foi que descobriu o Brasil? Foi seu Cabral, no dia 22 de abril, dois meses depois do carnaval”. Sim, para o Brasil, ou melhor, para o Rio. Estou cansado de ser estrangeiro. Não sei passar sem o Rio de Janeiro.

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