COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR

2ª quinzena de novembro

 
O pão nosso de cada dia
 
Não, eu não vou falar de religião, apesar de ter usado a frase acima. Quero falar é de pão mesmo. Não no sentido figurado mas, sim, no sentido físico e real do objeto que corresponde à palavra. Objeto, via de regra, comestível.

Meu avô foi padeiro, há muitos e muitos anos atrás, em Jundiaí, no interior de São Paulo. Criou os filhos, aos quais ensinou a profissão; contituiu um considerável patrimônio, à época, por conta da qualidade do que produzia. Fazia questão da limpeza do local, dos equipamentos e dos auxiliares; sabia a origem dos ingredientes; seguia, à risca, a receita certa — talvez, aí, a razão do seu sucesso na profissão. Ele mesmo fazia a massa ou, no máximo, acompanhava de perto. Quando eu nasci, estes tempos áureos dos pães de meu avô já estavam próximos do fim, devido à sua avançada idade. Porém, antes que ele se aposentasse e fosse cuidar da terra - seu sonho, sua paixão - tive a oportunidade de degustar algumas daquelas delícias.

Lá se vão muitos anos dessas gostosas lembranças da infância! Mas também tive o prazer de degustar deliciosos pães em vários outros lugares do estado de São Paulo e, claro, na própria capital paulista, centro de referência gastronômica do país!

Em Águas de Lindóia, por exemplo, onde morei há cerca de uns vinte anos atrás, a turminha saía do Pingo Bravo, ia ver o sol nascer no Morro Pelado e depois, em caravana, nos dirigiámos à porta dos fundos da padaria, pouco antes das 6:00 h da manhã, quando saía a primeira fornada, na esperança de que um bom café quentinho e um pãozinho fresco aliviassem nossa culpa pela noitada!

Não tão distante dos dias de hoje, num passado recente, morando na cidade de São Paulo — divisa com Osasco —, tive o prazer de conhecer e poder degustar as delícias feitas pela "Pão do Parque" — a primeira padaria do país a informatizar o atendimento. Acho que esse modelo deveria ser adotado, bem como os padrões de higiene a que eles submetem todos os empregados: é o próprio cliente quem se serve, pinçando os pães e colocando-os em cestas de vime, impecavelmente limpas. Pão fresco e quente? À toda hora! Uma profusão de sabores, de tipos, de formatos! Mas... sempre o mesmo e gostoso pãozinho!

Suspiro com saudades de um bom pãozinho, coisa impossível de ser degustada aqui em Ponta Grossa, no Paraná. Aqui se come muito bem, com fartura, com higiene extrema. O tal do "café colonial", moda em quase todo o país, é hábito corriqueiro aqui. Porém, um bom pãozinho para o café da manhã...nem pensar! As diferenças com os lugares onde andei são gritantes, e me doem no estômago e na memória!  Em primeiro lugar, nunca procure uma padaria que tire a primeira fornada às 6 horas da manhã — se você conseguir às 7 horas, dê-se por satisfeito. Segundo: não escolha o pão pela aparência nem pelo preço — nem sempre o que é mais caro, em se tratando de pães, nesta cidade, é o melhor. Hoje mesmo, dirigi-me à padaria mais chique da cidade, na esperança de conseguir, finalmente, degustar um delicioso pãozinho com manteiga no meu café da manhã. Saí de casa apressada, atrasada para levar o filho à escola (por conta da chuva), e pedi, com muito jeitinho, que minha mãe passasse um café fresco enquanto isso, que eu traria deliciosos paezinhos quentinhos. O preço dos pães quase me fez cair sentada: 25 centavos cada! Mas estavam bonitos e quentinhos. Peguei meu saquinho de pães — servidos e escolhidos pela atendente — e vim para casa, feliz da vida, imaginando aquele gostinho tão bom, a manteiga, o queijo, o café com leite, como há muito tempo eu não degustava! Ledo engano: a manteiga estava ótima, o café e o leite também (apesar do leite daqui, como de todo lugar, hoje em dia, ser natural da vaca da caixinha), mas, o pão! Cadê o pão? Enfiei a faca para cortá-lo em fatias e... puf! Bromato puro! Ar! Sem consistência! Sem gosto de nada! Até o pão do japonês (pasmem, japonês padeiro, em terra de "polacos", como dizem aqui) é melhor do que o pão da boutique de pães metida à besta onde comprei os tais pãezinhos bromatados! Agora começo a entender o porquê de padeiro, aqui, não ficar rico. Fecham uma padaria por mês, na cidade. Não é para menos: vendem ar!

Um estado tão rico, tão produtivo na área de alimentos e... não há legislação para regulamentar o preço e a qualidade de um simples pãozinho?!?!

Pelo amor de Deus: tragam-me os portugueses, os espanhóis, os italianos, até mesmo os nordestinos aprendizes de padeiros de São Paulo! Qualquer um que saiba fazer pães! Juro que, se bem feitos, com qualidade e preço justo, dão dinheiro!

Ai, que saudades de um pãozinho!!!

7:10 h da manhã - ainda com fome de um pãozinho honesto!

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