COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR

1ª quinzena de março

 
A PREGUIÇA DE VIRAR A MESA

Já virei essa mesa tantas vezes. Já troquei a mesa, deixei-a limpa, toalha rendada, de cor ou de flor. Os pratos, arrumei; comprei talher novo. Guardanapo de papel? Amassei e joguei! Troquei por de tecido, sem ser de fino linho, porém, branco e alvo, combinando com a louça, de florido amarelo e azul.
Já virei essa mesa tantas vezes. Até de mesa, eu já troquei. Sonhei, chorei, surrei e apanhei, dessa mesa chamada "vida". Agora ando me sentindo perdida: o que foi que eu ganhei? Estou cansada, envelhecida, acho até que emburrecida, do tanto que, essa mesa, virei.
Virei pro norte, esperando melhor sina; pro leste, mirando um vento ameno; pro oeste, pra que a chuva cultivasse meu campo; pro sul imaginando encontrar sossego; centrei, na esperança de assentar a vida. Qual nada! Fica tudo igual. Num primeiro instante melhora, pois alivia o visual, mas, depois de um tempo é que eu vejo: nem melhorei meu traquejo, diante das controvérsias da vida. E nessa andança nômade, de mesa em mesa, de prato em prato, fui comida, engolida pelas moscas nojentas, que farejam minhas feridas.
Já virei essa mesa tantas vezes! Será que alguém me ajuda a revirá-la de novo? Quem sabe há uma gaveta oculta, nessa mesa desmerecida, onde eu encontre uma chave de alento que me sopre qualquer esperança, que me leve — solta no vento —, que me dê forças, músculos e fibra, pra novamente virar essa mesa da vida.

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