COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR.

2ª quinzena de novembro
(próxima coluna: 3 de dezembro)

PRECONCEITOS, PRECEITOS E ENGANOS

Quando conheci pessoalmente Leila Míccolis e Urhacy Faustino, em visita ao Sítio de Blocos, fiquei encantada com os dois, com o lugar, verdadeiro recanto de comunhão com a natureza. Ouvi uma frase de Leila que me marcou, típica de pessoas extremamente sensíveis: “a escrita traduz o caráter de uma pessoa”; “o caráter fica impresso, implícito no texto”, isto é, mostramos quem somos pelas frases, pelos textos que montamos.
Depois disso, comecei a prestar mais atenção aos textos que me chegam, procurei enxergar as entrelinhas, fiz silêncio na tentativa de “ouvir” o íntimo de cada autor. Pude perceber, então, coisas e falta de coisas que não pressentia antes: gente que escreve apenas o óbvio, utilizando-se de rico vocabulário, porém, vazio de sentido; gente que escreve o simples, repleto de personalidade e sentimento; gente que mente; gente que escancara a verdade; gente que se esconde atrás das linhas; gente que se mostra nos parágrafos.
Mas, o que dizer sobre os “passadores e repassadores” de textos? Também procurei delinear o perfil destes, como um cego que tateia o rosto à frente, na tentativa de adivinhar-lhe os traços. Da mesma forma, procurei uma forma de tentar perceber a razão de algumas pessoas fazerem questão de serem frias em listas de discussão, de fugirem do assunto – foco das listas –, como aqueles que vivem apregoando mil protestos políticos (sempre contra a situação, é claro: afinal, é o alvo mais à mão) em meio a textos românticos e cheios de desejos de paz postados pelos confrades ingloriamente e nada sutilmente ignorados.
E, nessa procura, nessa tentativa de “localização” dentro dos acontecimentos, de posicionamento frente às tão diversas personalidades com as quais convivemos virtualmente, me deparei com a situação mais hedionda, mais retrógrada, mais decepcionante que já tivera até então. Um poeta postou na lista um poema recém escrito com teor real, repleto de sentimento, de verdade, de sensualidade (que faz parte do amor, é claro – ou alguém aqui ainda acredita em amor platônico, sem “rosco que me enrosco”?). A resposta, do até então veemente protetor e defensor de determinado grupo de fracos e oprimidos da sociedade, foi de uma brutal falta de caráter. Dirigiu-se ao poeta chamando-o, em tom de ofensa, de “judeu” e “homossexual” (estou sendo educada, pois o termo foi mais pejorativo), depois do objeto de sua ofensa vil ter-se retirado da lista, em respeito aos demais, tamanha baixaria que havia se instaurado nos ataques de ambos – ora um se defendendo, ora outro atacando, em respostas irracionais e inverossímeis. Ora, uma pessoa (?) que ataca um ser humano usando como ofensa credo, raça e/ou opção sexual – não estamos discutindo se procedem tais acusações ou não – merece credibilidade quando posta, em inúmeras listas, protestos e mais protestos, manifestos e manifestos falando de política engajada?...
Afinal, somos o que escrevemos ou não? Ou será que apenas nos mostramos na escrita, de fato, no calor dos acontecimentos?
“Ser ou não ser: eis a questão .”
“Aparecer e não transparecer: eis a contradição!”.

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