COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR, onde exerce o cargo de Conselheira Municipal da Cultura.

1ª quinzena de julho - Coluna 47
(Próxima coluna: 3/8)


Caramelidades

Eu estou em dúvida: não sei se falo de caramelos ou da situação politicamente caótica do país. Também dá pra falar de jogos – tendo em vista a aparente constituição física do governo, semelhante às peças de dominós caindo em cascatas (não sei o nome desse jogo) –. Ou então, quem sabe, uma brincadeira de roda? Passa anel: “Passa, passa três, vezes, o último há de ficar...”. Bem, depois de quase 30 anos sem brincar de roda, não dá pra lembrar a letra toda da musiquinha, mas dá pra inventar uma nova. Sem comentários: melhor ficar quieta, pois, afinal, eu não quero falar em política. Nem posso: não entendo nada, ou não entendo mais nada, ou, na verdade, nunca entendi a real posição e intenção dos governantes. Só eu? Quem consegue acompanhar essa nova moda de cantiga de roda? Depois da dança da boquinha da garrafa, a moda, agora, é a dança da cueca (recheada de dólares)! Não dá pra acompanhar, sinceramente. Eu não tenho cacife. Nem cacique.
Melhor falar em caramelos. Poxa! Ainda se fazem caramelos? Alguém se lembra das balas Toffe? Balas Confiança? Drops Dulcora? Bala japonesa: aquela que grudava no céu da boca e arrancava as próteses (termo moderno para a velha dentadura dos avós)? Lembrei de política novamente: bala grudando no céu da boca, a gente tentando disfarçar, pensar em outra coisa, pra ver se a infeliz desgruda e passa pela garganta; uma entaladinha, provocando, às vezes, um engasgo constrangedor, mas... Fazer o quê? É o preço por tão doce encanto e desengano!
E bala de ovos? Aquelas com cobertura de açúcar queimado. A gente morde e sente o macio cremoso do recheio! Mas essa, que eu me lembre, é caseira. Mas, de vez em quando, sai uma leva no Planalto Central. Ovos mal misturados – cuidado na hora de abri-los, para que nenhum ovo estragado se misture, o que acabaria com a receita; acrescentar coco ralado (nem vou comentar a respeito do coco: bem raladinho, diretamente lá de riba, de preferência com sotaque, que é o melhor). Acrescentar leite condensado, enlatado, moderno, pronto pra consumo. Fazer uma calda consistente de açúcar refinado. Melhor parar, pois os detalhes da receita a vovó não me contou – também, ela não entendia nada de política. Que política, que nada! Só quero comer balas! Balas com cheiro e sabor de infância, época da inocência, época em que eu acreditava em heróis, em “paz e amor”, época em que se escrevia “abaixo a ditadura” onde fosse possível, época em que tínhamos objetivos, causas, dignidade, sonhos de um Brasil melhor! Onde foram parar estas pessoas? Perderam o rumo? Danificaram sua bússola?
Agora vivemos a época do escárnio eletronicamente correto. Gravadores digitais são capazes de façanhas, como pegar no pulo incautos negociantes de favores; câmaras digitais, minúsculas, gravam acordos escusos. Deputado vira cantor em programa televisivo, recebe aplausos, faz pose de “Galã do Olho Roxo”, é aplaudido e consegue mais do que 15 míseros minutos de fama, como a maioria dos mortais. Araponga, dedo-duro, são coisas do passado: hoje o politicamente certo é delatar tudo. E se não há o que delatar, arma-se um circo, onde qualquer um, de repente, vira palhaço do Palácio. Dá-lhe CPI, e, depois de algumas sessões do espetáculo, a comemoração do sucesso, dos aplausos e do público, na Pizzaria da esquina.
Ah! Quer saber? Vou comprar balas: saudades dos caramelos.

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